Tunísia quer importar bezerros do Brasil

quinta-feira, 13 de maio de 2010

São Paulo - A Tunísia quer importar bezerros para engorda do Brasil e o membro do Conselho Executivo da União Tunisiana da Agricultura e Pesca (Utap), encarregado de Relações Internacionais e Parcerias, Labidi Abdelmajid, está em busca de contatos de fornecedores. Abdelmajid participa, em Brasília, do Diálogo Brasil-África, conferência entre brasileiros e africanos sobre alimentação e agricultura, e está também, nesta viagem, verificando a possibilidade de compra dos bezerros. De acordo com Abdelmajid, a empresa tunisiana interessada nos animais é a Sociétes les Eleveurs Réunis, afiliada à Utap.

Abdelmajid está no Brasil ainda com a missão de promover a International Agricultural Show, exposição bianual da área agrícola, que ocorre na Tunísia entre 19 e 23 de outubro deste ano. De acordo com o tunisiano, a mostra pode ser uma oportunidade para promoção da tecnologia brasileira agrícola em seu país. Segundo ele, a Tunísia tem interesse na tecnologia brasileira, principalmente para agricultura em regiões áridas e semi-áridas. "Tenho planos de discutir o tema e estabelecer um diálogo com organizações e profissionais brasileiros em um futuro próximo", disse Abdelmajid em entrevista à ANBA por e-mail.

No Diálogo Brasil-África, Abdelmajid, que foi convidado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, participou como representante da sociedade civil da Tunísia e produtores agrícolas tunisianos e do Maghreb. Da participação na conferência, Abdelmajid destacou a vontade do Brasil e África de construir uma ponte de cooperação e parceria para transferência de tecnologia e investigação científica. "Possibilitar que a África tire proveito da experiência brasileira no desenvolvimento agrícola é um desafio interessante", disse Abdelamajid.

Durante o encontro em Brasília foi inaugurada uma nova unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que vai oferecer treinamento para estrangeiros. Abdelmajid lembra que a instituição já tem projetos em parceria com africanos, mas afirma que é uma vontade do país árabe estabelecer programas de cooperação entre a Embrapa e o Tunisian National Institute for Agronomical Reasearched (INRAT). Ele afirma que a Embrapa é uma instituição de pesquisa muito desenvolvida e na Tunísia o nível da pesquisa agrícola também é avançado.

De acordo com Abdelmajid, a cooperação entre o Brasil e a Tunísia, na área agrícola e pesca, está abaixo das expectativas. "Mas há uma vontade de ambas as partes para concretizar e promover ações. O estudo de alguns projetos ligados ao cultivo de cereais e silvicultura estão em andamento", disse o tunisiano. Além da cooperação, também há áreas nas quais o comércio agrícola entre os dois países pode crescer. A Tunísia pode exportar para o Brasil, segundo Abdelmajid, azeite de oliva e azeitonas em conserva.

Abdelmajid retorna ao seu país na quinta-feira e, segundo ele, que visitou o Brasil pela primeira vez, vai levar a imagem de um país cheio de potencialidades. "Oferece muitas oportunidades de parcerias e cooperação", diz. Segundo ele, o Brasil tem um "excelente presidente" assim como políticas de desenvolvimento social com fins humanitários e nobres. "O Brasil é um país modelo em um ambiente internacional marcado pelo protecionismo, incertezas econômicas e tensões sociais, disse.
 

As memórias de Daud Constantino Cury

São Paulo – Era dia 11 de setembro de 2001 quando o cineasta brasileiro Otavio Cury e sua família chegaram de férias à cidade de Homs, na Síria. Essa era a primeira vez que Otavio pisava no país árabe, terra que seu bisavô deixou em 1926 para vir ao Brasil. No único dia em que o cineasta ficou na cidade, descobriu um livro, de 500 páginas, escrito pelo seu bisavô, Daud Constantino Cury. "Foi assim que surgiu a vontade de investigar a história, as memórias perdidas do meu bisavô", afirmou à ANBA o cineasta e produtor da Outros Filmes, que até o final do ano concretiza o longa-metragem Constantino, que tem como base a história do bisavô.

Raquel Brust Raquel Brust

Otavio já tem 100 horas de filmagem



A tradução do livro, do árabe clássico para o português, começou em 2007, em São Paulo, por um iraquiano que mora no Brasil. Com algumas traduções na mão, Otavio foi em busca de mais informações. Foi ao consulado da Síria em São Paulo e ao Centro Cultural Árabe Sírio. "Fui filmando todos os lugares e as conversas que eu tinha, pensava que poderiam ser usadas para montar um roteiro e buscar financiamento", disse Cury.

De acordo com ele, no final de 2008 o projeto do Constantino conseguiu dois financiamentos, um pelo Programa de Fomento ao Cinema Paulista, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, e outro pelo Iran Documentary Fund (IDF), fundo de fomento ao documentário do Irã. "Mesmo assim ainda estamos atrás de fundos adicionais", acrescentou o cineasta.

Com o dinheiro na mão, Cury e sua equipe, com mais três pessoas, incluindo a fotógrafa gaúcha Raquel Brust, viajaram para Síria em 2009 para começar as gravações. No período de um mês, a equipe, com autorização do governo sírio e com a ajuda da embaixada brasileira em Damasco, deu início às gravações e às pesquisas mais aprofundadas sobre a história de Constantino. "Quando voltei para Homs, o que eu descobri foi algo 50 vezes maior e mais emocionante do que eu achava (sobre o seu bisavô)", afirmou o cineasta.

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Otavio (D) conversa com um primo em Homs

Em Homs, Cury percebeu que seu bisavô, além de ter sido professor de Matemática - que era a única informação da qual ele tinha conhecimento antes de encontrar o livro - foi poeta, jornalista, dramaturgo, compositor, músico, ativista e professor de Artes. Segundo o cineasta, seu bisavô foi um dos únicos professores cristãos a ensinar em Homs no século 19, num país que vivia há quatro séculos sob dominação otomana.

"Descobri que ele fundou o primeiro jornal da cidade de Homs, que existe até hoje, e achei todos os artigos escritos por ele", contou Cury, que visitou a redação do Jornal Homs, fundado em 1909. Outra descoberta foi uma igreja, onde os músicos ainda cantam uma música composta por Constantino nas missas. "Eu também fui a duas escolas em que ele deu aula e que ainda funcionam normalmente na cidade", disse Cury.

Segundo o cineasta, seu bisavô também foi uma pessoa muito importante na história do teatro sírio. Constantino teve ligação com Abu Khalil Al-Qabbani, considerado o pai do teatro árabe e principal autor da Renascença Árabe. Os dois trabalharam juntos no teatro Khan Al-Zait, em Damasco, e depois Constantino o levou para Homs quando o teatro de Al-Qabbani foi incendiado pelos turcos.
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Artigo do Jornal Homs escrito por Constantino



"Esse filme vai ir além da história do meu bisavô. Vai acabar falando do período do final do Império Otomano, que teve duração de 400 anos", disse Cury, que já tem 100 horas de gravação. Com os desdobramentos das pesquisas e as novas descobertas da história de seu bisavô, Cury acabou indo filmar também na Jordânia, Líbano e Turquia. "Faz quatro anos que estou trabalhando nesse filme. Agora já está tudo filmado e estamos em fase de montagem", acrescentou ele, que deve lançar o filme nos cinemas em 2011.

Paralelamente ao filme, Cury e a fotógrafa Raquel Brust vão lançar um livro de fotos e poesias, com as imagens do making off da viagem e alguns textos de convidados especiais, inclusive poemas do Constantino. O livro vai ser publicado em três idiomas, português, árabe e inglês. "Estamos atrás de patrocínio para essa publicação", disse Cury, que tem recebido apoio de muitas pessoas e instituições árabes e brasileiras.

Flávio Kehdi Flávio Kehdi

O filme deve ser lançado em 2010

De acordo com o cineasta, o início do trabalho, que envolvia a tradução e as pesquisas, foi bem difícil e desgastante. "Cheguei a desistir algumas vezes", disse. "Um pouco depois da euforia, de se emocionar muitas vezes, talvez me sinta um pouco mais sírio, mas não sou sírio. Passei a admirar a história e a cultura dessa gente, que são pessoas incríveis, generosas e hospitaleiras", afirmou.

Memórias de Otavio

Otavio Cury, 38 anos, é formado em Agronomia pela Universidade de São Paulo (USP), mas nunca exerceu a profissão. Aos 30 anos resolveu fazer Cinema e a primeira produtora na qual trabalhou foi a Mutante Filmes, em São Paulo, de onde saiu o seu primeiro documentário, Cosmópolis, em 2005. "O vídeo nasceu com os 450 anos da cidade de São Paulo. Resolvemos fazer um filme sobre a cidade e mostrar a participação que os imigrantes tiveram na história da cidade", disse Cury, que dirigiu o documentário junto com Camilo Tavares e Cói Belluzzo.

Marina Sarruf/ANBA Marina Sarruf/ANBA

Otavio mostra livro escrito por seu bisavô

Entre os 12 personagens do filme estão um egípcio e dois sírios, que contam um pouco de suas histórias. O documentário agradou o público e foi selecionado para os principais festivais de cinema do Brasil e exibido em diversos festivais europeus. Este ano, após ganhar legendas em árabe, com patrocínio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, o filme foi exibido na Síria. Resultado: mais duas apresentações já estão agendadas para este ano em Damasco.

Outro filme de Otavio, que está saindo do forno, é Xié, nome de um rio na Floresta Amazônica. O longa-metragem vai mostrar um grupo de cirurgiões voluntários da cidade de Campinas, interior de São Paulo, que viajam para a floresta amazônica e montam hospitais temporários para atender uma aldeia indígena, com mais de 500 pacientes em busca de operações. O filme deve ser lançado ainda este ano.
 
 
 
 

Campinas recebe exposição sobre Palestina

terça-feira, 4 de maio de 2010

São Paulo – Campinas, no interior de São Paulo, recebe até 14 de maio a exposição Palestina: Vida e Sangue. Organizada pelo Instituto da Cultura Árabe (Icarabe) e pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade de Campinas (Unicamp), a mostra exibe dez filmes sobre o drama palestino, além de imagens dos fotógrafos Rogério Ferrari e Aline Baker feitas nos territórios ocupados da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

Rogério Ferrari Rogério Ferrari

Resistência das pedras contra os tanques



Em "Retratos da vida palestina", Aline Baker, brasileira de família palestina, exibe 36 fotografias feitas em 2008 na Cisjordânia, mostrando a vida cotidiana de seus habitantes, rodeados por postos de controle e soldados israelenses.

"A eloquência do sangue", de Rogério Ferrari, reúne 30 fotografias feitas entre janeiro e abril de 2002 na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e destaca a resistência da população palestina contra os tanques de guerra de Israel.

Já os filmes dividem-se entre longas e curtas-metragem de ficção e documentários, produzidos por países árabes, França e Estados Unidos.

Serviço

"Palestina: vida e sangue" – Mostra de filmes e exposições fotográficas
De 29 de abril a 14 de maio (de segunda à sexta-feira)
Horário: das 8h30 às 22 horas
Sessões cinematográficas diárias às 16 e às 19 horas

Local: Espaço Cultural Casa do Lago
Rua Érico Veríssimo, s/nº, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Campinas/SP
Tel.: (19) 3521-7851
Entrada gratuita