Mostra de São Paulo exibe filmes árabes

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

São Paulo - A 34ª Mostra Internacional de Cinema, que ocorre em São Paulo até quarta-feira (4), traz um total de 400 filmes de mais de 70 países, entre eles dois da Palestina e um do Marrocos. As produções estão sendo exibidas em 20 espaços, entre cinemas, museus e centros culturais.
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Filme de produção marroquina, Vida Curta



Do Marrocos, os brasileiros podem conferir o curta metragem Vida Curta (Courte Vie), do diretor Adil El Fadili, de 2010, com duração de 17 minutos. O filme conta a história da vida de Zhar e a evolução mundial entre 1970 e 2010. A primeira exibição do curta acontece neste domingo (31), às 19h50, no espaço Matilha Cultural. A mesma produção será exibida ainda nos dias 1, 3 e 4 em outros três espaços e horários (confira a baixo a programação).

Da Palestina, a mostra traz o documentário A Terapia (Fix Me), do diretor Raed Andoni, de 2009, com duração de 98 minutos. Baseado na própria história do cineasta, que sofre de dores de cabeça, Andoni consulta um psicólogo que o leva a uma série de 20 sessões de terapia. Nelas, o diretor explora as memórias individuais de palestinos, com diversos personagens, incluindo membros de sua família. Em um lugar dominado pela consciência coletiva e pelas questões de identidade, ele busca a individualidade das pessoas retratadas.

O documentário será exibido nos dias 2, 3 e 4 na Cinemateca, às 20h30, e na Matilha Cultural e Cine Olido, às 14h. O segundo filme palestino é Atirar Num Elefante (To Shoot An Elephant), dos diretores Mohammad Rujailah e Alberto Arce, espanhol. A produção é de 2009 e tem duração de 112 minutos.

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Cena do documentário A Terapia, da Palestina

O filme documenta a rotina na Faixa de Gaza a partir de 27 de dezembro de 2008, quando Israel começou uma operação militar em Gaza, onde passou 21 dias atirando. O documentário é baseado no artigo de George Orwell, Shooting an Elephant, que foi publicado originalmente em 1948 e definiu um modo de ver a Ásia que ainda permanece válido.

Atirar Num Elefante terá sua primeira exibição no dia 1º de novembro, no Espaço Unibanco Arteplex 5, às 22h. O filme será exibido ainda nos dias 2, 3 e 4 na Matilha Cultural, Centro Cultural do Banco do Brasil e Belas Artes, em diferentes horários.

Segundo informações da organização da mostra, a seleção de filmes faz um apanhado do que o cinema contemporâneo mundial está produzindo e das principais tendências, temáticas, narrativas e estéticas produzidas em todo o mundo.

Serviço

Vida Curta
Data: 31 de outubro
Horário: 19h50
Local: Matilha Cultural
Endereço: Rua Rego Freitas, 542 – Centro

Data: 1 de novembro
Horário: 15h
Local: Unibanco Arteplex 3
Endereço: Shopping Frei Caneca, Rua Frei Caneca, 569, 3º piso – Consolação

Data: 3 de novembro
Horário: 22h50
Local: Unibanco Arteplex 6

Data: 4 de novembro
Horário: 18h
Local: Cine Olido
Endereço: Av. São João, 473, Centro

A Terapia
Data: 2 de novembro
Horário: 20h30
Local: Cinemateca – Sala Petrobras
Endereço: Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino

Data: 3 de novembro
Horário: 14h
Local: Matilha Cultural

Data: 4 de novembro
Horário: 14h
Local: Cine Olido

Atirar Num Elefante
Data: 1 de novembro
Horário: 22h
Local: Unibanco Arteplex 5

Data: 2 de novembro
Horário: 16h10
Local: Matilha Cultural

Data: 3 de novembro
Horário: 16h10
Local: Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro

Data: 4 de novembro
Horário: 17h50
Local: Belas Artes
Endereço: Rua da Consolação, 2423 – Consolação

Mais informações
Site: br.mostra.org

Campinas faz festival para o café

São Paulo – O município paulista de Campinas terá, entre os dias 10 e 14 de novembro, a terceira edição do Campinas Café Festival. O evento, promovido pelo Instituto Jerusalém, tem apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e oferecerá ao público uma programação que inclui atividades culturais, informativas e de lazer com temas envolvendo o café. A cidade tem sua história ligada ao produto, já que foi um dos grandes pólos de cultivo e comercialização da commodity entre o final do século 19 e começo do século 20.

O festival terá na programação uma mostra sobre a história do café e das xícaras, organizada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Também haverá degustação olfativa de cafés, na qual as pessoas serão levadas a sentir os diferentes aromas do produto. A atividade será organizada pelas Faculdades de Educação Física, Engenharia Agrícola e Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) fará exposição de tipos de cafés de diferentes fazendas do estado.

Haverá ainda uma tarde de seminário, no dia 12, sobre café e educação, café e economia, café e negócios, além de café e saúde. As atividades vão ocorrer no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS) da Estação Guanabara, na Unicamp, mas no último dia a programação ficará por conta do Sesc Campinas, onde haverá música caipira e café. A abertura do evento também terá música, com show de Margareth Menezes, interpretando canções populares, como de Almir Sater e Milton Nascimento, que mencionam o café.

Além de lembrar a história de Campinas, o festival tem por objetivo promover o café devido sua importância no Brasil. "Somos o primeiro produtor mundial de café arábica, o segundo maior consumidor de café", afirma o superintendente do Instituto Jerusalém, Ali Al-Khatib. Ele diz ainda que o café é um dos alimentos mais "solidários" do mundo, já que as pessoas costumam se reunir para tomá-lo. Khatib ressaltou a importância também da Câmara Árabe na exportação de café brasileiro para os países árabes.

O município de Campinas também abriga a organização que, no Brasil, é referência em pesquisas sobre cultivo de café, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). "Por causa do café Campinas ofereceu ao Brasil seu segundo presidente (republicano)", afirma Al-Khatib, referindo-se a Campos Sales, e lembrando ainda de outros nomes da cidade que ganharam notoriedade, como o compositor de ópera Carlos Gomes. O objetivo do festival, segundo o superintendente, é transformar Campinas na capital brasileira da história e da cultura do café.

De acordo com um dos diretores da Câmara Árabe, Bechara Ibrahim, o apoio ao festival é uma maneira de a entidade ter seus braços para além da capital paulista. Segundo ele, Campinas abriga uma comunidade de árabes e descendentes bastante atuante e tem tradição na promoção de eventos árabes, além de comportar uma região metropolitana bastante populosa. No seminário do festival deverá haver uma palestra sobre negócios com o mundo árabe. O apoio da Câmara Árabe ocorre por meio do Comitê Cultural, do qual Ibrahim é integrante.

Além da Câmara Árabe também dão apoio ao festival a Prefeitura Municipal de Campinas, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), a Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, a Cati, a Abic, o IAC, Faculdades de Campinas (Facamp), a Associação Comercial e Industrial de Campinas, o Campinas e Região Convention & Visitors Bureau e o Grupo Bandeirantes de Comunicação, entre outros. São co-promotores o CIS-Guanabara e a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, da Unicamp, e o Sesc-Campinas.

Serviço:

Campinas Café Festival

De 10 a 13 de novembro
CIS da Estação Guanabara – Unicamp
Rua Mário Siqueira, 829 – Botafogo – Campinas – SP

Dia 14 de novembro
Sesc-Campinas
Rua Dom José I, 270/333 – Bonfim – Campinas – SP

Informações:
Instituto Jerusalém
Telefone: +55 (19) 3243 8329

História da Liga dos Campeões da África

Lista de vencedores da Liga dos Campeões da CAF:
1965 - Oryx Douala (Camarões)
1966 - Stade (Costa do Marfim)
1967 - TP Englebert (República Democrática do Congo)
1968 - TP Englebert (República Democrática do Congo)
1969 - Ismaily (Egito)
1970 - Asante Kotoko (Gana)
1971 - Canon de Yaoundé (Camarões)
1972 - Hafia (Guiné)
1973 - AS Vita Club (República Democrática do Congo)
1974 - CARA Brazzaville (Congo)
1975 - Hafia (Guiné)
1976 - MC Argel (Argélia)
1977 - Hafia (Guiné)
1978 - Canon de Yaoundé (Camarões)
1979 - Union Douala (Camarões)
1980 - Canon de Yaoundé (Camarões)
1981 - Jeunesse Electronique Tizi-Ouzou (Argélia)
1982 - Al Ahly (Egito)
1983 - Asante Kotoko (Gana)
1984 - Zamalek (Egito)
1985 - Forces Armées Royal Rabat (Marrocos)
1986 - Zamalek (Egito)
1987 - Al Ahly (Egito)
1988 - Sétif (Argélia)
1989 - Raja Casablanca (Marrocos)
1990 - Jeunesse Sportive Kabylie (Argélia)
1991 - Club Africain (Tunísia)
1992 - Wydad Casablanca (Marrocos)
1993 - Zamalek (Egito)
1994 - Espérance (Tunísia)
1995 - Orlando Pirates (África do Sul)
1996 - Zamalek (Egito)
1997 - Raja Casablanca (Marrocos)
1998 - ASEC (Costa do Marfim)
1999 - Raja Casablanca (Marrocos)
2000 - Hearts of Oak (Gana)
2001 - Al Ahly (Egito)
2002 - Zamalek (Egito)
2003 - Enyimba (Nigéria)
2004 - Enyimba (Nigéria)
2005 - Al Ahly (Egito)
2006 - Al Ahly (Egito)
2007 - Étoile du Sahel (Tunísia)
2008 - Al Ahly (Egito)
2009 - TP Mazembe (República Democrática do Congo)

O torneio era conhecido como Copa Africana dos Campeões até 1997.
 

VÊNUS NEGRA

Gilles Lapouge CORRESPONDENTE / PARIS - O Estado de S.Paulo

Gostaria, pela primeira vez, de falar de um filme, Vênus Negra, exibido em Paris. É muito belo e seu diretor, o jovem tunisiano Abdellatif Kechiche, grande cineasta. Ele esboça um retrato poderoso e nunca lacrimoso de uma mulher que foi célebre, a Vênus hotentote, nascida na África do Sul em 1789 e morta em Paris em 1815. Pertencia ao grupo étnico koisan, o mais antigo da África do Sul.

Nascida escrava, ela foi levada para Londres, onde os empresários de espetáculos ficaram contentes, pois a jovem apresentava duas singularidades impactantes: era portadora de calipígia, o que significava que tinha um grande traseiro. E seus órgãos genitais eram protuberantes. Um regalo, uma mulher daquelas. O que mais o povo desejaria?

Dali em diante, Saartje Baartman (seu verdadeiro nome era Swatche, mas os ingleses logo tomaram o cuidado de "batizar" a jovem e lhe impor outro nome) foi jogada às feras na Europa. Turnês triunfais a conduziram de Londres a Amsterdã e a Paris. Toda a aristocracia e a grande e média burguesias se dobravam de rir com suas nádegas enormes e seu sexo aparente. Como eles se divertiam! Valia todo o dinheiro!

O cineasta não evita cenas imundas, mas permanece discreto. Ele explica: "Zombaram dela, feriram-na e a ultrajaram de tal forma que precisei manter o respeito, precisei ser humilde." O filme esclarece outra vertente da ignomínia ocidental: o comportamento dos doutos. A primeira cena é violenta. Num anfiteatro, em Paris, um homem exibe a outros o sexo de uma mulher. Esse sexo acaba de ser destacado da Vênus Negra.

Ali, não estamos mais no espetáculo de circo, na tourada em que a Vênus Negra foi vítima ofegante. Estamos no âmbito da Ciência. O homem que se entrega a essa pornografia é dos maiores naturalistas da época, Georges Cuvier, produto daquela sublime cultura ocidental que nasceu do Século das Luzes e da qual a França, o país dos "direitos humanos" desde 1789, é o archote. O grande naturalista também francês Étienne Geoffroy Saint-Hilaire, que trabalharia no Brasil, não fica atrás. Ele considera que a feiura da Vênus hotentote assemelha-a a um orangotango, enquanto a deformidade de seu traseiro a aproximaria mais do macaco mandril.

Indignação. George Cuvier conclui: "Essa mulher é a prova da inferioridade de certas raças." Evidentemente, há quem seja indulgente com esses imbecis, com Cuvier, com Saint-Hilaire, com as multidões que acorriam em família para ver o fenômeno. Ele diria que esse desprezo, essa insensibilidade, era típico daquela época. Isso não é inteiramente verdade. Houve alguns solitários que se indignaram. É gratificante que essas vozes nobres não viessem dos notários, nem dos ministros, nem mesmo dos sábios, mas dos poetas.

Victor Hugo foi de uma ironia feroz: "Paris é um bom menino. Paris aceita tudo. Paris não é difícil em matéria de Vênus. Sua calipígia é hotentote. Contanto que Paris ria, Paris anistia. A feiura a alegra. A deformidade a desopila. O vício a distrai." Após 1994, na África do Sul libertada da ferocidade dos holandeses e dos ingleses, Nelson Mandela pediu que os despojos da Vênus Negra fossem repatriados para a África do Sul. A França começou por recusar, mas alguns anos depois, em 2002, enfim, aceitou: o corpo de Swatche foi devolvido à sua terra. Ele passará a eternidade no meio dos seus. TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

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