Diretor da Emirates Brasil, Ralf Aasmann fala para ANBA

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

São Paulo – Os empreendimentos turísticos de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, estão procurando se adequar aos clientes brasileiros. A informação é do diretor da Emirates Brasil, Ralf Aasmann. O fluxo de turistas do Brasil no país árabe aumentou desde que a Emirates, companhia aérea dos Emirados, lançou um vôo direto entre São Paulo e Dubai, em outubro do ano passado. "Empresas locais estão contratando brasileiros porque o fluxo está muito grande. Em alguns empreendimentos a presença de brasileiros já ultrapassou turistas tradicionais de outros países", diz Aasmann. De acordo com ele, os vôos da companhia estão bem cheios desde dezembro.

A Emirates vai se estabelecer como empresa, daqui a dois meses, também na Argentina, segundo Aasmann. Hoje, as agências argentinas compram as passagens no Brasil, para viagem a Dubai via São Paulo, o que não permite à companhia ter uma idéia exata do número de pessoas que vem do país vizinho para o vôo brasileiro. A partir da abertura da sede em Buenos Aires, as passagens serão emitidas na Argentina e a companhia poderá medir melhor o mercado local para avaliar a possibilidade de uma linha direta da capital argentina a Dubai. Os novos passos da Emirates são um dos temas da entrevista exclusiva que Aasmann deu à ANBA. Leia trechos abaixo:

ANBA – Como está a ocupação do vôo direto da Emirates, entre Dubai e São Paulo, desde que ele foi lançado?

Ralf Aasmann – No mês de lançamento, claro, nós não estávamos com nossos aviões cheios, mas com uma ocupação acima do que é esperado para um período inaugural. Em novembro já começou a aumentar a ocupação nos dois sentidos e dezembro já era alta estação. Em dezembro, janeiro e ainda agora em fevereiro os nossos vôos estão bem cheios e os resultados estão bons. Isso já nos levou a decidir a sétima freqüência. Teremos vôos diários São Paulo-Dubai a partir de primeiro de julho. Isso já é definitivo, já estamos vendendo passagens. (Hoje a Emirates oferece seis vôos semanais).

Vocês têm idéia do perfil do passageiro, de quem está voando pela Emirates?

Nós temos tanto o turista, como executivos que estão utilizando Dubai como centro de distribuição para a Ásia, Índia. Mas o que nos surpreendeu muito é a quantidade de passageiros que terminam a viagem em Dubai. Dubai é o nosso maior destino no momento. No início achávamos que Dubai seria um grande destino, mas não tão significante como está sendo. Dubai no momento é um destino moderno para o brasileiro. Foi feito um trabalho muito grande de imprensa, de mídia, para tornar Dubai um destino interessante. Hoje Dubai está na moda e nós queremos que esta moda não acabe. Não indo três meses para Dubai, você já encontra uma nova Dubai, de tão rápido que as coisas estão mudando lá. Então não será assim: vi, gostei e agora vou para outro lugar. Isso não vai acontecer. As pessoas viram, gostaram e vão voltar porque vão querer ver outras coisas que estão sendo feitas em Dubai.

Qual percentual dos passageiros do vôo de São Paulo têm como destino final Dubai?

Nós temos alguns destinos tops. Temos muitos destinos na Ásia entre os mais procurados, também na África, no Norte da África, e Oriente Médio. Não nessa ordem. Oriente Médio primeiro, depois Ásia e depois África. Eu diria que 40% dos passageiros, talvez até um pouquinho mais, fiquem em Dubai.

Vocês percebem que houve uma migração para os vôos de vocês de passageiros dos demais países árabes que antes usavam escalas na Europa para vir ao Brasil?

Na verdade a nossa intenção não era captar passageiros das demais companhias aéreas, mas sim abrir uma nova frente com vôo direto ao Oriente Médio. Pode ser que alguns passageiros tenham migrado para a Emirates, mas, de qualquer forma, para eles é uma conexão. Mas eu acredito que o mercado brasileiro está tão carente de novas ofertas que a vinda da Emirates serviu para acrescentar, dar mais opção, e tirar um pouco a lista de espera das demais companhias. Não acredito que a Emirates tenha prejudicado as companhias européias.

A Emirates investiu bastante em publicidade para promover Dubai como destino, não é?

Teve um trabalho muito forte da assessoria de imprensa antes de lançarmos a parte de mídia (publicidade). Eu cheguei à conclusão logo no início, quando comecei a trabalhar na Emirates, que muita gente no Brasil não sabia nem onde ficava Dubai. E quando se falava que Dubai ficava no Oriente Médio, a reação era "Nossa, não vou!". Então a nossa preocupação era tornar este destino conhecido porque não adianta nada você fazer propaganda de uma companhia que vai para um lugar que as pessoas não sabem onde é. Muitos jornalistas foram para lá, escreveram sobre Dubai, esclareceram ao mercado o que é Dubai, o que tem por trás de Dubai. Aí entramos com uma mídia muito forte, o valor que investimos foi bem alto, e mostramos como se faz para chegar até lá, com a Emirates.

E quais são os planos de expansão da Emirates agora na América do Sul e Brasil? na época do lançamento se falou em possibilidades de vôos para o Rio de Janeiro, Argentina.

Não podemos falar ainda de planos porque planos são mais concretos. Existem análises sendo feitas para ver se outros mercados são de interesse da Emirates. Lógico, um dos mercados aqui no Brasil seria Rio de Janeiro. Mas também há os países vizinhos, Argentina, Chile.

Mas então ainda não existe uma decisão de abertura de um vôo para estes lugares? ou da criação de uma escala para a linha de São Paulo?

Não, ainda não. Dentro da aviação é preciso analisar como se vai trabalhar com custos. Quando você tem um vôo muito longo, se você faz qualquer vôo de continuação, você tem que contar com uma nova tripulação. Você tem os custos de vôo, operacionais, uma tripulação que tem que ser baseada aqui, com custos de hotel, para fazer esse trecho e buscar, talvez 20 a 30 passageiros do Rio de Janeiro. Então a pergunta é simples: você precisa voar até o Rio de Janeiro, ter este custo todo, ou você consegue encher o avião em São Paulo sem ter que voar para lá? isso sem desmerecer mercados ou os cariocas. É uma conta neutra que tem que ser feita. Eu sou muito mais a favor de ter um vôo direto para o Rio de Janeiro que seja sustentado pelo mercado do Rio de Janeiro. O mesmo exemplo se aplica a Buenos Aires ou a Santiago do Chile. É preciso colocar tudo isso na balança. E ainda, se a Emirates decidir voar, por exemplo, para Buenos Aires, os passageiros argentinos que embarcam em São Paulo vão deixar de embarcar em São Paulo. O mercado de São Paulo tem potencial suficiente para preencher a lacuna que os argentinos deixarão? Nós sabemos também que o chileno gosta muito mais de pegar um vôo em Buenos Aires do que em São Paulo. Então tanto chilenos quanto argentinos vão querer embarcar em Buenos Aires. Aí vamos perder estes passageiros aqui. Não adianta nada voar para a Argentina e prejudicar o vôo do Brasil. Tudo isso tem que ser colocado na balança. Nós estamos abrindo a Emirates na Argentina como empresa. Isso deve estar concluído em, no máximo, dois meses. Com isso poderemos emitir nossas passagens na Argentina e avaliar melhor o mercado de lá. Hoje as agências de viagem da Argentina compram as passagens no Brasil e então entra para nós como passageiro brasileiro. O próximo passo é abrir no Chile para avaliar o real potencial destes mercados.

Para onde vocês percebem que foi possível ser expandida a relação do Brasil com os Emirados a partir do vôo direto?

Eu vejo que há um movimento relativamente grande de empresas brasileiras tentando contatos nos Emirados Árabes para exportação. As pessoas que me procuram dizem que é preciso usar este gancho, de que a Emirates está no Brasil, para fazer essa conexão comercial entre o Brasil e Emirados Árabes. Existem intenções de feiras, de apresentação de produtos, de chamar importadores dos Emirados Árabes para o Brasil para conhecer produtos brasileiros. Já há algumas empresas brasileiras representadas lá. Só para citar algumas das maiores, Odebrecht, Sadia, Perdigão. Há também bancos brasileiros abrindo lá. Há uma série de coisas acontecendo e isso está, no meu ver, esquentando, com essa proximidade que temos agora de simplesmente pegar um vôo aqui e pousar em Dubai.

O trabalho que vocês fizeram, de mostrar mais Dubai no Brasil, também foi feito em Dubai, de mostrar mais o Brasil por lá?

Foi feito um trabalho muito interessante por parte da Embratur. Nós não tivemos uma participação tão ativa nisto, foi uma iniciativa da Embratur, de mostrar o Brasil para funcionários da Emirates de outros países, como Índia, China e Japão. Eles vieram para cá, até antes de começarmos a voar. A Embratur trouxe esse grupo, umas quinze pessoas, e mostrou o Brasil para eles. Fora a parte de mídia, de imprensa, jornalistas foram convidados também para conhecer o Brasil e divulgá-lo lá fora.

E há uma mudança de percepção do Brasil também nos Emirados?

Os nossos colegas quando vêm para cá ficam surpreendidos com São Paulo. Não imaginam que São Paulo é uma cidade tão grande, bonita também. E isso acontece com os turistas também. Eles dizem: mas é muito grande, existem prédios muito modernos. Não há ninguém que tenha vindo de lá e não tenha ficado surpreendido com o Brasil.

Mas o Brasil não é ainda tão popular em Dubai quanto Dubai é no Brasil...

Para nós o Brasil é realmente um mercado, um grande mercado. Mas Emirados Árabes não é um grande mercado, mas um bom destino para nós. Se a gente for levar em consideração quantas pessoas realmente vêm dos Emirados para cá, esse número é pequeno. Até porque a população de lá é muito pequena. E entre a população de Dubai, apenas 20% é árabe nativa, 80% é estrangeira. Então nós dependemos muito da conexão Dubai. Os passageiros vêm de diversos lugares, do mundo inteiro, se conectam em Dubai, e vêm para São Paulo. Já no Brasil sim há um mercado aquecido, que procura novidades, e você consegue colocar Dubai no mercado brasileiro como um destino novo, uma moda, algo atraente. O trabalho do outro lado é muito maior. Por isso contamos também com a Embratur porque a Embratur está em diversas feiras, no mundo inteiro, divulgando o Brasil como destino.

É possível fazer turismo barato em Dubai? vocês têm planos de avançar, tornar o vôo mais popular entre as classes mais baixas?

Dá, com certeza, para fazer turismo barato em Dubai. E quanto aos passageiros, nós não temos distinção nenhuma, somos uma transportadora, não cabe a nós decidir quem vai viajar. Queremos transportar as pessoas, independentemente da classe social. Existem muitas pessoas que viajam conosco, para outros destinos também, como mochileiros, estudantes. Quem vai para a Europa hoje? todo mundo vai para a Europa. E os preços para viajar a Dubai são mais ou menos os mesmos que para ir à Europa. E eu ainda acho que você gasta menos em Dubai do que em várias cidades na Europa. (A passagem mais barata da Emirates de São Paulo-Dubai custa hoje um pouco mais de US$ 1,5 mil – ida e volta).

Vocês têm algum feedback dos empreendimentos turísticos de Dubai sobre o aumento da presença brasileira por lá?

Há empresas locais hoje nos Emirados contratando brasileiros porque o fluxo está muito grande. Há empreendimentos nos quais o fluxo dos brasileiros aumentou tanto que já passou alguns turistas tradicionais de outros países. De repente o brasileiro está chegando lá e eles não estavam preparados para isso. Eles estão se estruturando melhor porque a quantidade de brasileiros está surpreendendo.

E o que eles dizem a respeito dos brasileiros como turistas? são bons clientes, gastam muito?

Olha, eu não tenho esse feedback, mas imagino que sejam bons clientes porque os brasileiros gostam de gastar dinheiro, gostam de fazer compras. Deve ser bem atraente o brasileiro como cliente para eles porque se não fossem, eles não estariam investindo em pessoas falando português para poder atender os brasileiros.

Vocês planejam aumentar a estrutura física da Emirates no Brasil, no Aeroporto de Guarulhos?

O espaço em Guarulhos nós gostaríamos de aumentar um pouco mais, ter um espaço de vendas de passagens, mas por enquanto não existe a disponibilidade, por parte da Infraero, desses espaços. O que temos lá hoje é o check-in, mas é um check-in móvel, não é exclusivo, cada companhia aérea tem seu tempo para usar o check-in. Mas nós gostaríamos de ter um balcão para venda de passagem que ficaria aberto durante o dia e também nos finais de semana para atender o passageiro que quer mudar uma reserva, uma passagem, ou que queira comprar uma passagem no final de semana. Hoje aqui (no escritório da Emirates, onde são vendidas as passagens) nós não funcionamos no final de semana. E se o passageiro for para o aeroporto vai ter dificuldade de conseguir passagem. Hoje, o que temos em Guarulhos é o check-in que não é exclusivo e um escritório para atender os funcionários, operacional, onde é feita a preparação do vôo, etc.


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