Grupo árabe seleciona brasileiros para hotel de luxo em Dubai

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Uma saiu de Paraisópolis (MG) para estudar em São Paulo; outro foi cortador de grama, vendedor de seguros e faz-tudo; outra chegou a ter um negócio próprio. Os três compartilham o mesmo sonho: circular entre os corredores e as 202 suítes do hotel mais luxuoso do mundo, o Burj Al Arab, em Dubai.

O estabelecimento, considerado sete-estrelas --por, entre outras extravagâncias, oferecer mimos hiperbólicos aos clientes, como traslado do e ao aeroporto em Rolls Royce e helicóptero, nunca sem a companhia de um bom champanhe--, está recrutando a primeira leva de brasileiros para trabalhar em suas dependências.

A seleção tem por objetivo levar 52 profissionais para diversos hotéis da rede Jumeirah, da qual faz parte o Burj Al Arab. Até agora, apenas uma brasileira, a cearense Adélia Evangelista, faz parte do staff do sete-estrelas, como garçonete do restaurante-aquário Al Mahara.

Nesse oásis instalado no centro comercial dos Emirados Árabes, uma noite de sono não sai por menos de US$ 1.800 (sem café da manhã) e uma lembrancinha --a miniatura do hotel confeccionada em cristal Swarovski-- custa US$ 1.770.

A lista de hóspedes ostenta assinaturas como as de Brad Pitt e Angelina Jolie, Tiger Woods, Ronaldo, Naomi Campbell e de membros de monarquias. Ricos e famosos que escolhem o esplendor do edifício de 28 andares, esculpido em forma de veleiro, para passar as férias, celebrar a vida e realizar eventos.

No Brasil, a contagem regressiva para o resultado final da seleção já começou. Nas mãos de candidatos como a mineira Maria Fernanda Paula, 23, a niteroiense Vera Cunta, 44, e André Codato, 23, oriundo da pequena Cambé (PR), talvez repousem, em um futuro próximo, o cumprimento de ordens e caprichos dessa seleta freguesia.

Os postos oferecidos são de ocupações básicas e cargos de gerência e supervisão na rede hoteleira de Dubai. "Eu sou a pessoa", define-se o paranaense, que almeja ser cozinheiro especializado em churrascos e iguarias brasileiras no Burj Al Arab. "Vi fotos da cozinha e é linda demais, dá vontade de comer no chão, é outro mundo. Quero ir para lá porque quero estar no melhor."

Ter entre 18 e 35 anos, bom conhecimento de inglês, esbanjar simpatia em qualquer circunstância (mesmo após uma jornada de nove horas de trabalho duro) e obedecer aos ditames da cultura local são os requisitos mínimos. É levado em conta também um estilo de vida saudável e discreto (nada de tatuagens, maquiagens pesadas, decotes, bebedeiras e beijos em público).

O Brasil, assim como o Peru e o Panamá --países que também receberão a visita de selecionadores árabes--, entrou no foco pelo fato de o país ter no turismo uma "importante indústria" e contar com "um grande número de profissionais treinados", segundo Jacqui Brits, diretora de Recursos Humanos do Grupo Jumeirah. Jacqui virá ao Brasil no segundo trimestre para colocar um ponto final na seleção, por meio de entrevistas em que escolherá os contratados.

De acordo com Marcelo Toledo, proprietário da M/Brazil, empresa especializada há dez anos na seleção e no envio de profissionais para hotéis e cruzeiros internacionais, "o brasileiro nasceu para três coisas: jogar futebol, pilotar carros de corrida e trabalhar com hotelaria, por conta da hospitalidade".

Segundo Jacqui, o perfil do "funcionário-padrão" do Burj Al Arab pode ser resumido em três frases, as divisas de conduta estabelecidas pela rede hoteleira: "Sempre vou sorrir e cumprimentar nossos hóspedes antes que eles me cumprimentem"; "Minha primeira resposta a um hóspede nunca será não" e "Tratarei meus colegas com respeito e integridade".

Apesar do entorno de glamour, os salários oferecidos pelo sete-estrelas não estão entre os maiores que se verificam no ramo e na região. Estão longe das remunerações oferecidas em cruzeiros internacionais, por exemplo. A ambição dos selecionados para Dubai reside na mescla de melhora de currículo, no acúmulo de experiência e, se der, na criação de algum pé-de-meia depois dos dois anos contratuais.

André está disposto a enfrentar as 14 horas de vôo que separam os Emirados Árabes do Brasil em busca de um salário de R$ 3.250, mas a maioria dos postos disponíveis (de garçom, recepcionista, arrumadeira) oscila entre R$ 500 e R$ 650.

Um deles pode ser ocupado por Maria Fernanda, mineira formada em hotelaria que decidiu trocar o projeto de fazer intercâmbio nos Estados Unidos pela oportunidade de trabalhar como hostess nos Emirados Árabes. "Depois de Dubai, terei o inglês melhor e mais experiência para fazer uma pós ou outra faculdade", justifica.

A chance de trabalhar em meio a 1.590 m2 de folhas de ouro 24 quilates --outro dos vultosos detalhes do hotel-- não atrai apenas iniciantes no setor. De olho em um salário maior (entre R$ 2.000 e R$ 5.000) e em um salto na carreira está Vera Cunta, com mais de 20 anos de experiência no ramo hoteleiro.

Fluente em inglês, francês e italiano, com histórico de trabalho no exterior, solteira e sem filhos, ela se candidatou a um cargo de gerência nos estabelecimentos turísticos instalados na cidade. "Dubai parece ser o paraíso do turismo. Vem crescendo muito rápido. E os hotéis são incríveis. O que me prende ao Brasil?"

A quem interessar, a seleção continua aberta. Os candidatos devem enviar seus currículos para Eduardo Nuesch, recrutador da rede árabe para o Brasil, pelo e-mail enuesch@vhospitality.net. A sorte estará lançada.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/noticias/ult338u397176.shtml

 

0 comentários: