Universitário nigeriano defende modelo de desenvolvimento endógeno

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Lagos, Nigéria (PANA) - Face à sua posição de líder continental, a Nigéria deve elaborar com urgência um projecto de desenvolvimento endógeno a ser implementado por um capital humano consciente das suas implicações afim de dar novo alento ao seu sistema universitário quasi-comatoso e incentivar o crescimento nacional, advogou o docente universitário Akin Oyebode.
 
Oyebode, professor de Jurisprudência e Direito Internacional na Universidade de Lagos, a capital económica da Nigéria, considera que, dada a riqueza do seu capital humano, a Nigéria não pode contar com "muletas emprestadas" para iniciar a sua viagem para o desenvolvimento durante o século XXI, nomeadamente devido ao seu papel de liderança em África.
 
"Depois de várias partidas falsas e da incapacidade de aproveitar as potencialidades do nosso país, tomamos mais uma vez um caminho que nos leva para o incógnito, por causa duma economia política nigeriana privada de fundamentos coerentes", explicou o universitário, na sua intervenção por ocasião da segunda cerimónia de entrega de diplomas da Universidade do Estado de Kogi.
 
Na sua exposição intitulada "A Visão 20-2020 e as Universidades nigerianas", Oyebede, antigo reitor da Universidade de Ado-Ekiti, no Estado de Ekiti, no sudoeste do país, estabeleceu uma relação entre a história do país e a Visão Nacional, cujos inventores desejariam ver a Nigéria integrar o grupo das 20 principais economias do mundo até àquela data mágica.
 
Segundo ele, a Visão 20-2020 da Nigéria, que se inspira nas previsões do banco norte-americano de crédito ao consumo, Golden Sachs, publicadas em Dezembro de 2005, não é apenas de origem exógena, mas também peca por excesso de ambição.
 
Se nos basearmos nas conclusões do estudo do Goldman Sachs, até 2025, as 20 economias mais importantes do mundo vão integrar provalvelmente no seu grupo a Nigéria e os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China.
 
"Retomando este raciocínio", indicou ainda o universitário, "os nossos jovens prodígios do Banco Central (da Nigéria) decidiram então, sem a menor pesquisa ou estudo concreto, reduzir o prazo de cinco anos e é assim que elaboraram a sua própria Visão 20-2020, construída em torno de um vector especialmente concebido pela circunstância, a Estratégia do Sistema Financeiro (FSS) 2020.
 
Ressaltou, todavia, que o governador do Banco Central, Charles Soludo, foi "forçado a reconhecer as dificuldades de aplicação que pocem comprometer a Visão, cuja realização pressupõe uma taxa de crescimento anual do Produto Interno Bruto de pelo menos 13 por cento, contra os actuais 6 a 7 por cento, além de um investimento de capitais de cerca de 40 biliões de dólares americanos".
 
Defendeu a redução das ambições, explicando que convém "repensar a Visão 20-2020" para que se torne "essencialmente num instrumento de mutação socioeconómica, em vez de ser o lema em que se tornou hoje".
 
Oyebode indicou ainda que "o perfil educativo das pessoas desempenha um papel maior na qualidade da sua vida", acrescentando que "mesmo no seio das economias liberais, o Estado não se demite inteiramente da educação dos seus cidadãos".
 
Advogando com convicção a educação enquanto direito constitucional dos cidadãos, o universitário ressaltou que a ignorância constitui "um componente real do índice da miséria humana e qualquer país que deseje sair do subdesenvolvimento deve tomar a sério a educação dos seus cidadãos".
 
Qualificando a educação ou a sua ausência de "chave da maioria dos problemas (da Nigéria), quer se trate de roubos à mão armada, de eleições mal organizadas, da corrupção ou da prostituição", Oyebode avisou que, enquanto a Nigéria continuar a albergar um importante exército de pobres e populações desfavorecidas, este país não vai conhecer a paz".
 
Sublinhando o papel insubstituível e as contribuições das universidades para a realização dos objectivos nacionais de desenvolvimento, nomeadamente da Visão 20-2020, o antigo reitor afirmou que as universidades nigerianas percorreram um longo caminho, desde o tempo do Colégio universitário único, instalado em 1948 em Ibadan, no sudoeste do país, até às mais de 90 universidades que existem hoje no país.
 
A rarefacção dos recursos resultou numa "baixa dos níveis". Não é de se surpreender que as universidades nigerianas, que não dispõem de recursos necessários para garantir a qualidade, tenham sido pouco competitivas em relação aos outros estabelecimentos de ensino superior do mundo, e até do continente, disse.
 
Para ele, esta situação foi agravada pela fuga de cérebros, que se manifestou pelo grande número de universitários nigerianos que ofereceram os seus serviços a universidades da Europa, da América do Norte, do Golfo árabe e da África Austral, enquanto que as universidades do seu país sofrem dum défice de cerca de 15 mil professores.
 
A autonomia da universidade, disse, é uma condição prévia para fazer recuar os limites da ignorância para o bem da sociedade inteira.
 
Por outro lado, acrescentou, as universidades nigerianas merecem ser objecto dum programa comparável ao Plano Marshall, "se quiserem reposicionar-se entre as maiores universidades do planeta".
 
Disse igualmente que o país deve procurar, antes do ano 2030, "ter um lugar durante o período 25-30, em vez de se concentrar num horizonte 20-2020 ilusório ou destinado ao fracasso", avisando que "mesmo neste caso, a realização do objectivo será quase impossível sem um quadro bem concebido baseado na nossa experiência de dependência neocolonial isolada da periferia".
 
"Um projecto tão importante como o que consiste em analisar o lugar que a Nigéria gostaria de assumir nos próximos 20 anos não deve ser confiado às mãos estrangeiras, cujos cérebros não são melhores do que os nossos. Tudo o que temos de fazer, é reorganizar e responsabilizar as nossas universidades e, por conseguinte, reduzir as nossas despesas induzidas pelos esforços consentidos para encontrar soluções a problemas existenciais multiformas de enfermam a nação", concluiu.
 

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