Turismo: Faças as malas e vá para Líbia e Argélia

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Alexandre Rocha/ANBA Alexandre Rocha/ANBA

Medina de Trípoli reúne marcos de diferentes épocas

Trípoli e Argel – Países do Norte da África como Marrocos, Tunísia e Egito são destinos turísticos tradicionais bastante procurados por viajantes do mundo inteiro. Mas essa faixa de terra, delimitada pelo Mar Mediterrâneo ao norte e cortada pelo Deserto do Saara ao Sul, guarda outras surpresas com grande potencial de atração de visitantes, embora ainda pouco exploradas: a Líbia e a Argélia.

São dois países vizinhos, com economias baseadas no petróleo, clima e passados semelhantes, mas, no entanto, muito diferentes entre si. A presença de fenícios, cartagineses, romanos, berberes, depois árabes e por fim dos turcos, faz parte da história comum das duas nações, e as relíquias deixadas por esses povos podem ser vistas em ambos.

A partir do século 19, porém, a história das duas nações passou seguir caminhos totalmente diferentes. A Argélia se tornou uma colônia francesa na primeira metade daquele século, e o domínio francês durou mais de 100 anos, até a guerra de independência que teve início em 1954 e só terminou em 1962. Já a Líbia foi invadida pela Itália em 1919 e permaneceu sob domínio italiano até 1943.

Wilson Dias/Abr Wilson Dias/Abr

Artesanato no mercado árabe tradicional

No quesito dos projetos para atração de turistas, seja para lazer ou negócios, a Líbia parece estar na dianteira. O país, governado há 40 anos pelo coronel Muammar Kadafi, se abriu para o mundo no início desta década, após anos de embargos internacionais. Novos hotéis e empreendimentos de veraneio pipocam na capital Trípoli e redondezas. Além disso, o governo investe pesado em infra-estrutura e na indústria petrolífera, atraindo empresários de todas as partes.

Os dois novos terminais do Aeroporto Internacional de Trípoli, cujas obras estão a cargo da construtora brasileira Norberto Odebrecht, vão ter capacidade para receber 20 milhões de visitantes por ano. Com isso, o governo líbio, além de promover o turismo, quer transformar a cidade em um centro de conexões aéreas, especialmente para destinos na África.

Ao passear por Trípoli é possível ter uma amostra do potencial turístico do país. A Medina, centro antigo da cidade, guarda entre suas muralhas resquícios das diversas civilizações que se estabeleceram no território. No meio dela, por exemplo, está o chamado Arco de Marco Aurélia, ruína romana que pode ser visitada facilmente. Nos arredores da capital existem outros sítios romanos bem preservados.

Alexandre Rocha/ANBA Alexandre Rocha/ANBA

Kadafi é onipresente

Dentro da Medina e em suas redondezas há uma forte concentração de comércio bastante popular, com comerciantes e camelôs líbios e de outras nacionalidades africanas vendendo todos os tipos de produtos, desde roupas, passando por cigarros, até antenas parabólicas. Dentro das muralhas, há também um souk, mercado árabe tradicional, onde são comercializadas peças de artesanato local.

A entrada principal do souk fica em frente à Praça Verde, marco da moderna Trípoli, local de passeio e lazer dos moradores. Ali perto há também o prédio do Banco Central da Líbia, palácio de arquitetura mourisca que chama a atenção. A imagem de Kadafi é onipresente, está espalha em cartazes por toda a cidade.

Uma dificuldade é o idioma. Ao contrário de outros países da região, onde os sinais de trânsito, nomes de ruas e luminosos de lojas são geralmente bilíngües (em árabe e francês ou em árabe e inglês), na Líbia praticamente tudo é escrito somente em árabe. Além disso, é mais difícil encontrar pessoas que falem outras línguas.

Mas mesmo nessa seara o visitante pode ser surpreendido. Ao sentar para almoçar ou jantar você pode, sem saber, estar em um dos restaurantes do Khaleed, líbio que viveu muitos anos no Brasil e fala português praticamente sem sotaque.

O país tem também atrações naturais, como a costa mediterrânea e o deserto, e já começa a tentar atrair turistas estrangeiros em busca de casas de veraneio. Está em construção, por exemplo, a Palm City Residences, condomínio a beira-mar localizado a 15 quilômetros de Trípoli, que vai reunir ampla estrutura de lazer.

A Branca

Alexandre Rocha/ANBA Alexandre Rocha/ANBA

Centro de Argel visto da parte alta da cidade

O mar é uma das grandes atrações também de Argel. A capital argelina, embora pouco visitada por turistas estrangeiros, é provavelmente uma das cidades mais ocidentalizadas do Norte da África. Apesar das feridas deixadas pela guerra de independência, a influência francesa no país é muito forte, mais até do que nos altamente turísticos Tunísia e Marrocos.

A começar pela arquitetura. Os prédios de Argel, baixos, brancos e com janelas azuis, são característicos da colonização francesa. A cidade fica em uma baía e suas ruas sinuosas sobem morro acima, de onde se tem belas vistas do Mediterrâneo.

Alexandre Rocha/ANBA Alexandre Rocha/ANBA

Frase ecumênica sobre o altar da santa negra

Um desses pontos de observação é o platô onde se encontra a basílica Notre Dame D'Afrique, ou Nossa Senhora da África, construída em 1858. A igreja guarda características multiculturais. A santa, colocada em cima do altar, é negra como Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Ao fundo, em destaque na base da cúpula do templo, está escrito: "Notre Dame D'afrique, priez pour nous e pour les musulmans", ou "Nossa Senhora da África, rezai por nós e pelos muçulmanos". A população argelina, como nos outros países da região, é majoritariamente muçulmana.

Apreciar do alto o casario branco, que conferiu à cidade o apelido de "La Blanche", e o mar azul turquesa é sem dúvida um dos melhores programas de Argel. Mas não é o único. A cidade tem outras surpresas, como seu centro movimentado e com um comércio vibrante, a Kasbah, cidadela otomana que está na lista do Patrimônio Histórico da Humanidade da Unesco, e o monumento aos mártires da guerra da independência. Não longe da capital, existem também ruínas romanas.

Argel é uma cidade onde é possível ainda curtir a vida noturna e conhecer lugares freqüentados pelos locais. Ao contrário da Líbia, onde o consumo de bebidas alcoólicas é proibido, a Argélia produz boas cervejas e vinhos.
Alexandre Rocha/ANBA Alexandre Rocha/ANBA

Área central tem arquitetura colonial francesa



Um desses locais é o La Voûte, mistura de restaurante e bar com música ao vivo, que fica na parte baixa da cidade, próximo ao porto. O cenário parece saído de um filme. Não há indicação do lugar, instalado entre os arcos que sustentam um bulevar acima. Quando o cliente bate na porta, o porteiro abre uma janelinha para ver quem é. Ao entrar, o visitante logo se depara com grupos de jovens argelinos conversando animadamente enquanto ouvem uma banda tocar clássicos do blues e do rock.

Embora exista um projeto para promover o turismo, ainda não se vê muitos estrangeiros na capital argelina. O país recebe atualmente cerca de 1,5 milhão de turistas por ano, muito menos do que os seus vizinhos, mas há capacidade para muito mais.

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