Me desenha um carneiro - Exposição traz a obra O Pequeno Príncipe e a trajetória de seu criador

sexta-feira, 13 de novembro de 2009


São Paulo – Um garotinho carismático, doce, de cabelos louros desarrumados e que tem muito a ensinar aos adultos está ocupando todo o espaço expositivo da Oca, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Trata-se da mostra O Pequeno Príncipe, o imortal personagem criado pelo francês Antonie de Saint–Exupéry, que teve várias passagens por países árabes como Líbia, Marrocos, Mauritânia, Sudão, Egito e Argélia.

Divulgação Divulgação

Príncipe voava com os pássaros

A exposição faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil e é inédita no mundo. Todo o projeto foi idealizado pela brasileira Sheila Dryzun, curadora do evento, e apresentado aos gestores dos direitos da obra de Exupéry, na França. A cenografia, assinada por Daniela Thomas e Felipe Tassara, proporciona aos visitantes uma verdadeira viagem a dois mundos: o do Pequeno Príncipe, recheado de pequenos planetas, desenhos, baobás, vulcões, uma raposa e uma flor, e o de Exupéry, o piloto-poeta que adorava desafios.

A mostra está distribuída em quatro andares do prédio projetado por Oscar Niemeyer. Ainda no térreo, o visitante é apresentado à obra. O Pequeno Príncipe é o terceiro livro mais traduzido no mundo. Ele perde apenas para a Bíblia e o Alcorão. Em pequenas salas, dispostas como um circuito, a viagem começa.

As ilustrações do livro ganham vida, animação. Numa das salas, o artista japonês Takahiro Matsuo deu movimento à clássica cena do voo com os pássaros (para quem não sabe, esse era o modo que o Pequeno Príncipe viajava: de carona com os pássaros). Utilizando recursos multimídia, Matsuo criou um ambiente onde as crianças podem simular o contato com os pássaros _ e eles alçam voo, com direito à sonorização de uma bela revoada.

História de um carneiro

"Me desenha um carneiro", uma das frases mais famosas do livro - e que foi lançada propositalmente no nosso endereço no Twitter durante a semana – também encontra espaço no andar térreo da exposição. Os visitantes são convidados a desenhar seus carneiros. O problema é encontrar um espaço em branco. Logo nos primeiros dias da mostra (a abertura foi no dia 22 de outubro), a sala estava toda desenhada e escrita. Sobraram pequenos brancos, entre um desenho e outro, entre uma assinatura e outra. Quem conseguiu, deixou sua marca.

O avião, a casa dos árabes

Do livro à inspiração para escrevê-lo. No subsolo da Oca o visitante encontra um mapa, com areia, ilustrando países visitados por Exupéry e importantes para a história do Pequeno Príncipe _ ora enquanto cenário, o deserto, por exemplo, ora como referência, os baobás, árvores típicas das regiões norte e nordeste do Brasil. Exupéry passou pela Argentina, Brasil, Senegal, Mauritânia, Marrocos, Líbia, Argélia, Egito e Sudão.

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As cores do universo de Exupéry

Em 1935, o piloto-poeta embarcou numa viagem desafio. Tratava-se de uma prova de velocidade, ele iria de Paris, na França, para Saigon, no Vietnã, onde morava sua irmã. Segundo Sheila, os reides eram uma nova fórmula para testar os aviões. Exupéry embarcou em um Simon Cuadron monomotor. "Era o mais rápido da época, capaz de uma velocidade de 300 quilômetros por hora", diz Sheila. Mas o avião teve um problema e caiu na Líbia, quatro horas após a decolagem.

Exupéry e seu mecânico, Prévot, passaram dias vagando pelo deserto, bebiam água do radiador e o orvalho do pára-quedas. A aspereza do deserto quase os matou. "Depois de três dias acreditando terem vistos lagos e poços de água, foram resgatados por um grupo de beduínos", conta Sheila. Uma reprodução do avião vermelho afundando nas areias do deserto líbio está exposta na mostra da Oca. No painel, informações de jornais da época, relatando a queda do avião de Exupéry e a notícia que ninguém mais esperava: "estão vivos!".

Foi durante essa estadia forçada no deserto que o autor deu vida ao clássico da literatura mundial. Nas areias do Saara,o personagem encontrou o Feneck, uma raposa do deserto que ensina ao Pequeno Príncipe que é preciso ter paciência para cativar os amigos. O encontro de Exupéry com a raposa o fascinou, ele a considerou um animal muito sábio, que respeita a natureza para manter-se viva. Para alimentar-se, come caracóis, mas escolhe de diferentes arbustos, deixando que os animais se reproduzam. São lições de sustentabilidade, aplicadas no mundo moderno.

Ainda no deserto, o visitante verá uma réplica de tenda beduína, com móveis e decoração. O espaço, no início, era aberto ao público, mas teve de ser fechado por conta da depredação, principalmente das almofadas coloridas, com desenhos típicos da região. As peças ficaram danificadas logo nos primeiros dias da mostra.

O espaço do subsolo também abriga um cinema, com apresentação de uma peça curta, de 15 minutos, chamada Livro Mágico. Dois atores, vestidos como pilotos, usam recursos de luz e sombra para contar a história do Pequeno Príncipe. Segundo a curadora, Sheila Dryzun, filmes também serão exibidos no espaço, mas as datas e a programação ainda não estão definidas. Toda a fachada, letreiros e cartazes do cinema são em aquarela e foram desenvolvidos pelo artista plástico e ilustrador Reinaldo Ramos de Queiroz, que fez o mesmo trabalho, de aquarela, nos ambientes externos, logo na entrada da mostra, como a bilheteria e a creperia. Tudo remete à Paris de Exupéry. 

Mensageiro aéreo

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O céu do Pequeno Príncipe

Para os adultos, o segundo andar da exposição é revelador. Desenhos, fotografias e toda a fantástica biografia de Exupéry é apresentada aos visitantes. É um espaço para descobertas: o autor falava árabe perfeitamente. Aprendeu em meados dos anos 20, quando, trabalhando como piloto da Latecoère (companhia francesa de transporte aéreo que mais tarde se incorporou à Air France), fazia o trajeto Dakar (no Senegal) a Casablanca (no Marrocos). Eram 2.765 quilômetros de um território hostil, onde mouros, incitados pelos espanhóis, não pensavam duas vezes antes de atacar aviões e capturar pilotos.

O bom desempenho na linha, levou Exupéry a assumir a chefia de um posto importante na Mauritânia, no Cabo Juby. Lá, para ganhar a confiança dos moradores locais, ele decidiu montar sua tenda, ao relento, morar como os nômades do deserto. Também começou a fazer aulas de árabes. Ganhou o respeito dos moradores. Transformou-se numa espécie de embaixador local. Quando algum piloto era capturado na região, Exupéry era quem ia negociar o resgate. "Ele conseguiu transformar a agressividade das tribos em cooperação", diz Sheila. E essa talvez seja uma das mensagens mais importantes do livro.

O visitante também poderá ver a grandeza da obra de Exupéry. Sessenta capas (as primeiras edições) em 60 idiomas e dialetos estão expostas no segundo andar. A coleção é do catalão Jaume Arbones. A edição em árabe data de 1962, quase 20 anos após o lançamento, em 1943, nos Estados Unidos. Na França, por conta da Segunda Guerra Mundial, o livro foi editado pela primeira vez em 1946, dois anos após a morte de Exupéry. O avião que ele pilotava desapareceu em 31 de julho de 1944, durante uma missão dos Aliados, num voo que partiu da Córsega com a intenção de fotografar o Mediterrâneo e a costa francesa. Exupéry tinha 44 anos e uma extensa obra. Além do Pequeno Príncipe, escreveu os livros Correio do Sul, Voo Noturno e fez alguns filmes. Deixou desenhos e muitos cadernos de viagem.

Interação

Outro ponto forte é o último andar, que traz uma réplica do planeta do Pequeno Príncipe, o B612. Pais e filhos se jogam, literalmente, e compartilham o momento, a arquitetura da Oca ajuda na viagem. A galáxia do Pequeno Príncipe está reproduzida no teto, girando e emocionando. No B612 estão a rosa, os vulcões e muitas crianças saltitantes, empolgadas com a história que encanta gerações há 66 anos.

Informações

Quando: até 20 de dezembro

Site: www.opequenoprincipe.com

Local: Oca, Parque do Ibirapuera, São Paulo, Brasil

Ingresso: 18 reais

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