quinta-feira, 7 de junho de 2007

Leila (Lauren Lee Smith) vive segundo os seus instintos. O sexo é, para ela, animal, mas é também uma fonte de poder sobre os homens. Leila não abdica do controlo na sua própria vida, mas o iminente divórcio dos seus pais vem abalar o extremo oposto em que ela se encontra, confirmando o seu descrédito na durabilidade das relações.

Nesse Verão em Toronto, Leila conhece David (Eric Balfour). A sedução é fácil e satisfatória. Leila sabe que quer David, e que David a quer, mas à medida que começam a perceber que existem sentimentos a sustentar o seu desejo um pelo outro, o seu analfabetismo emocional faz-se notar. Pouco articulados na linguagem do amor, Leila e David parecem apenas conseguir comunicar através dos seus corpos.

Sexo é comunicação e, cada vez mais, nas relações modernas, é a única linguagem utilizada. Conhecer o outro, entrar na sua intimidade e partilhar dela, dá trabalho, e também medo. Face a esse medo e à perturbação que a ligação emocional provoca no normal funcionamento da sua vida, Leila recua. Mas fá-lo tarde demais. A vida segura que construiu começa a desmoronar-se em torno desse sentimento recusado. Leila começa a questionar-se sobre se é verdadeiramente independente, ou apenas tem medo de sentir. E acabará por entender que o desejo pode tapar a possibilidade de amor e que uma das condições essenciais para ser feliz é tornar-se vulnerável.

Baseado no livro de Tamara Faith Berger, que escreveu também o argumento em conjunto com o seu marido e realizador Clément Virgo, “Lie With Me” é um filme sexualmente explícito, mas longe de ser chocante, feito com realismo e sem vergonha (a entrega dos actores é notória), sobre o dilema que se estabelece entre o sexo sem contexto e o compromisso emocional, e sobre a procura de uma solução em que um e outro vivam, e onde a espontaneidade e a profundidade se misturem.

“Lie With Me” contrasta cenas sexuais intensas com detalhes de vidas solitárias, uma duplicidade que se reflecte no próprio título: entre o deitarem-se juntos (‘lie with me’) e o viverem juntos uma mesma mentira (‘lie with me’), pode esconder-se aquilo que todos - mesmo o que se negam a aceitá-lo - andam à procura: o amor.

Mas sexo não é amor. E não é amor aquilo que Leila e David começam por fazer. No entanto, o abismo entre um e outro é bem menos acentuado do que muitas das teorias pseudo-modernas nos querem fazer crer.

Fugimos de sentimentos só para ver se eles correm mais do que nós, mas querendo secretamente que eles ganhem, e nos apanhem já sem fôlego para lhes resistirmos.

(Texto retirado do site CINERAMA)





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