Aulas de Português aos refugiados no Brasil

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Janaína Sombra
Os professores que participaram do curso com os especialistas da UFRJ
Os professores que participaram do curso com os especialistas da UFRJ

São Paulo - Entre os dias 14 e 18, sete professores que estão dando aulas de português para os 108 palestinos reassentados no Brasil participaram de um curso de capacitação no Rio de Janeiro. Durante esses cinco dias, eles tiveram aulas com quatro professores do Setor de Estudos Árabes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que também são autores do livro "Português para falantes de árabe", da Almádena Editora, que é utilizado durante as aulas para os palestinos.

Segundo João Baptista Vargens, professor aposentado da UFRJ e idealizador da Almádena, 50 cópias do livro já tinham sido enviadas no ano passado para a Jordânia, enquanto os reassentados ainda estavam vivendo nos campos de refugiados, para que naquele primeiro momento eles já tivessem contato com o português. Além disso, o livro também é usado na Universidade Libanesa e na Universidade de Damasco.

Ao todo, foram trinta horas de curso nas quais os professores-alunos aprenderam como utilizar melhor o método proposto pelo livro. "A gente propõe comparações entre as gramáticas árabe e portuguesa", explica João Baptista. Dessa forma, a morfologia, a sintaxe e a fonologia de ambas as línguas foram sendo comparadas ao longo das aulas. "O curso foi bom no sentido de dar orientações pedagógicas para eles. Porque todos são bilíngües, mas nem todos têm formação em letras", explica João Baptista.

O curso só foi possível graças a uma parceria entre o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), responsável pela vinda dos refugiados palestinos para o Brasil, com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), ligada ao MEC. Segundo o ACNUR, o projeto custou cerca de R$ 30 mil. O aprendizado de português é uma das contrapartidas colocadas pelo governo brasileiro aos beneficiados pelo programa de reassentamento.

Causa nobre

O coordenador do curso, João Baptista, lembra que neste caso em especial - dos refugiados - é preciso ter mais que conhecimento das línguas. Afinal, os refugiados ainda estão em fase de adaptação, assimilando a forma diferente de se viver e de se relacionar do brasileiro. "Isso torna o aprendizado mais demorado", conclui.

Além disso, de acordo com os próprios professores que participaram do curso, outra dificuldade é lidar com a heterogeneidade dos alunos em sala de aula. Há pessoas das mais variadas faixas etárias e níveis escolares em uma mesma turma. "Mas apesar das dificuldades, eles estão muito entusiasmados, afinal, é uma causa nobre", diz.

Em Novembro, a ANBA acompanhou um dia de aula de português para os refugiados. Na ocasião, Ghada Harati, que também participou da capacitação no Rio de Janeiro, ensinava para uma turma de cinco alunos palavras relacionadas à casa, para aumentar o vocabulário dos palestinos.

O Brasil acolheu os 108 refugiados entre setembro e novembro do ano passado. A decisão de acolhê-los foi anunciada em junho pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça. O Programa de Reassentamento Solidário, parceria do Conare com o ACNUR, foi criado para receber refugiados que escaparam de situações de conflitos ou violência generalizada, mas que não puderam continuar no primeiro país de refúgio. Hoje, o maior grupo atendido pelo programa é de colombianos.


http://www.anba.com.br/noticia.php?id=17162

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