Visto brasileiro na Nigéria

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A matéria abaixo explica como é a problemática do consulado Brasileiro para emitir vistos na Nigéria!

Esquema tem ramificações até em bancos e preocupa Interpol; criação de linha aérea regular pode agravar problema

Jamil Chade

No centro da caótica cidade de Lagos, um visto para o Brasil é vendido ilegalmente por US$ 2.500, para permitir aos nigerianos escapar do controle da polícia e entrar em um avião ilegalmente. O Estado apurou que a fraude já preocupa até a Interpol, que neste ano deteve uma quadrilha de falsificadores e traficantes na África. Mas os problemas não param. O Consulado do Brasil em Lagos aponta: de cada dez vistos pedidos, sete são negados, por causa de documentos falsos.

As autoridades brasileiras estão preocupadas principalmente com as rotas do crime entre os dois países do Atlântico. Segundo o Escritório das Nações Unidas para Combate ao Tráfico de Drogas, em Viena, muitos grupos de nigerianos atuam fora do país, diante da repressão do governo de Abuja. 'O resultado é a transferência de máfias para outros países', afirmou uma funcionária da ONU.

'MULAS'

Segundo o governo brasileiro, uma das rotas faz a ligação entre Lagos e São Paulo ou Rio, passando por Amsterdã (Holanda) ou Madri (Espanha). Os nigerianos ilegais levam da Europa para o Brasil ecstasy e outras drogas sintéticas. No caminho de volta, carregam cocaína. Para alimentar o tráfico, as operações exigem o transporte das cargas por 'mulas', que também usam o porto de Lagos para chegar a Santos. E pior: como carga de navio.

Com a possibilidade de que seja aberta uma linha entre São Paulo e Lagos pela Ocean Air nos próximos meses, os dois governos já prevêem que terão de reforçar o controle - se não quiserem ver a rota da droga e da imigração ilegal explodir. Hoje, um vôo entre Lagos e São Paulo, passando pelo continente europeu, leva cerca de 30 horas. Com a nova conexão, o tempo cairá para cerca de seis horas.

Com dois funcionários em Lagos e outros dois em Abuja, os escritórios diplomáticos do Brasil na Nigéria deverão ainda sofrer com o aumento dos pedidos de visto e dificilmente terão como lidar com o volume. O esquema dos vistos falsos, aliás, só foi descoberto depois que um nigeriano que havia pago US$ 2.500 foi surpreendido pela reação de uma companhia que o impediu de embarcar. Ele foi até o consulado se queixar e descobriu que o visto não havia sido emitido pelo governo, que cobra apenas US$ 40.

Para diplomatas, esse caso de fraude é apenas a ponta do iceberg. Para conseguir um visto, o consulado em Lagos nota que vários documentos apresentados semanalmente são falsificados. O requinte são os extratos bancários falsos: para mostrar que tem recursos, os nigerianos contam até com a ajuda de funcionários dos bancos locais, que ganham US$ 200 para fazer a montagem dos recibos. Quando os diplomatas ligam para o banco, para confirmar a autenticidade do documento, o telefonema é atendido por alguém que está no esquema e confirma a existência daquela conta. 'Até assinaturas são falsificadas', afirma a cônsul Maria Auxiliadora Figueiredo. Segundo ela, cerca de 600 pedidos de visto são feitos todos os anos ao consulado.

Muitos nigerianos ainda alegam que são esportistas para conseguir um visto. Há poucos meses, o consulado deu a autorização para sete jogadores de futebol irem ao Brasil fazerem testes em escolinhas. Apenas um foi aprovado. O restante não tem destino conhecido.

Já na Embaixada do Brasil na capital Abuja, a percepção ainda é de que muitos nigerianos tentam obter o visto brasileiro como forma de mostrar, a outros consulados, que seus documentos já foram aceitos por outros governos - o que facilita o trâmite burocrático para ter acesso a mais países da Europa e da América.


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