Parte II - Fundamentos do Budismo - “Gohonzon” O objeto de devoção do Budismo de Nitiren Daishonin

quarta-feira, 26 de março de 2008

"Os homens sacrificam-se para defender sua honra e as mulheres morrem por seus maridos. Os peixes em uma lagoa desejam viver em segurança e, deplorando sua pouca profundidade, cavam buracos no fundo para se esconderem. Porém, iludidos pela isca, mordem o anzol... O mesmo é verdadeiro para os seres humanos. É geralmente por assuntos seculares insignificantes e raramente pelo importante budismo que as pessoas sacrificam sua vida. Por essa razão, poucas pessoas podem atingir o estado de Buda."1 Esta frase das escrituras de Nitiren Daishonin nos ensina um importante ponto: a que devemos devotar a nossa vida? Dinheiro, conforto, amor e família são importantes, sem dúvida. No entanto, o problema encontra-se no forte apego a esses fatores que estão sujeitos à mudança. Se nossa felicidade depender totalmente deles, será extremamente frágil. Se não temos dinheiro para obter o que queremos, sentimos uma imensa frustração. Se não somos correspondidos pela pessoa amada, sentimo-nos desolados. Essa é a tendência do ser humano.

Contudo há algo ainda mais importante e duradouro a que podemos devotar a vida. Algo que nos possibilita um eterno desenvolvimento. Esse algo é o Gohonzon.

Literalmente hon significa base, zon, respeito, e go é um prefixo honorífico que indica "digno de honra". Portanto, Gohonzon quer dizer "objeto de respeito fundamental". O Gohonzon contém a condição de vida iluminada do Buda que não é afetada por circunstâncias mutáveis. Nitiren Daishonin deixou o Gohonzon para toda a humanidade, inscrevendo-o em 12 de outubro de 1279 com o desejo de que todas as pessoas atinjam a mesma condição de vida iluminada por ele alcançada.

Sofremos a influência de vários fatores externos. Uma pintura pode nos evocar alegria, paz ou tristeza, dependendo da relação que temos com ela. A função do Gohonzon é possibilitar-nos evidenciar nossa natureza de Buda inata. A idéia de um objeto de devoção pode parecer estranha aos ocidentais. Mas o Gohonzon é muito diferente de um ídolo. Nós não nos devotamos a algo superior ou separado de nós. Ao contrário, Nitiren Daishonin nos legou uma representação gráfica da condição de vida iluminada do Universo e da nossa própria vida. Com a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, nós nos unimos ao Gohonzon e experimentamos nossa própria condição de vida iluminada. É exatamente como afirma a seguinte escritura: "Quando reverenciamos o Myoho-rengue-kyo inerente em nossa própria vida como objeto de devoção, a natureza de Buda dentro de nós é convocada e manifestada por nossa recitação do Nam-myoho-rengue-kyo; é isto o que quer dizer 'Buda'. Por exemplo, quando um pássaro engaiolado canta, os pássaros que estão voando no céu são atraídos e se reúnem ao seu redor, fazendo com que o primeiro comece a lutar para se libertar. Quando recitamos a Lei Mística, nossa natureza de Buda é evocada emergindo infalivelmente."2

O uso de um objeto para concentração e meditação é muito comum no budismo. O Gohonzon é chamado de mandala, uma palavra sânscrita, cujo significado original é "círculo". Na Índia antiga um círculo era desenhado na areia em torno dos participantes das cerimônias religiosas significando proteção. Um círculo compreende tudo que está dentro dele e, portanto, representa a universalidade e a totalidade, englobando o macrocosmo e o microcosmo.

O Gohonzon também é descrito como "concentração de benefícios" e "perfeitamente dotado". A nossa vida está perfeitamente dotada de tudo de que necessitamos para nossa felicidade. Nossa natureza inata de Buda responde à nossa recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon. Daishonin nos incentiva dizendo: "Eu, Nitiren, inscrevi minha vida em tinta sumi, assim, creia no Gohonzon com todo o seu coração."3 O Gohonzon é um pergaminho escrito em caracteres chineses e sânscritos. No centro, está escrito Nam-myoho-rengue-kyo Nitiren, significando a unicidade da Pessoa (Nitiren Daishonin) e da Lei (Nam-myoho-rengue-kyo). Representantes dos Dez Mundos (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e estado de Buda) aparecem reunidos em torno da inscrição central. Alguns deles são personagens históricos, enquanto outros são figuras míticas ou divindades budistas. Nitiren Daishonin utilizou-os para representar as funções do Universo e da nossa própria vida.

Diversas escolas budistas veneram imagens de Sakyamuni e de outras divindades. Nitiren Daishonin foi o primeiro a estabelecer um objeto de devoção com base na palavra escrita por atribuir a ela o mais alto valor. Assim como seus ensinamentos, que foram escritos de próprio punho em cartas, tratados e teses endereçados aos seus seguidores, o Gohonzon é um legado a toda a humanidade e está livre de deturpações em seu significado.

Notas: 1. As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, págs. 194–195. 2. Ibidem, vol. 6, pág. 231. 3. Ibidem, vol. 1, pág. 276. Onde ler mais a respeito: Terceira Civilização, edição no 354, fevereiro de 1998, págs. 12–20.
Fonte: TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, EDIÇÃO Nº 404, PÁG. 11, ABRIL DE 2002.

1 comentários:

Possidonio Duarte disse...

Parabéns pelo conteúdo desta página. espero por novas matérias relacionadas ao Budismo.
Boa sorte e felicidades a todos.