Parte III - Fundamentos do Budismo: No Ritmo do Universo

segunda-feira, 14 de abril de 2008

"O inverno nunca falha em se tornar primavera".1 Esta frase de Nitiren Daishonin ilustra bem a presença do ritmo nos fenômenos do Universo. A vida humana também é marcada de ritmos, de uma variedade deles. Quem ou o que empunha a batuta que rege essa grande e perfeita sinfonia?

 

Todos os fenômenos da natureza compõem-se de uma infinidade de ritmos. O historiador de Arte francês René Huyghe (1906-1997) especula que todas as matérias são feitas de energia e possuem uma vibração ou ritmo particular.

Por ritmo, entende-se todo movimento ou ruído que se repete a intervalos regulares.

É só observar ao redor para descobri-los. O ritmo está, por exemplo, no caminhar das pessoas pelas ruas, na chuva que cai, no vaivém das ondas. Se fechar os olhos e prestar atenção a si próprio neste exato instante, perceberá uma diversidade de ritmos também: o pulsar do coração, a respiração, o fluir do sangue pelo corpo, o piscar dos olhos e muitos outros.

A vida diária das pessoas também possui um ritmo. Normalmente, quando amanhece, como sob a regência de um maestro que movimenta sua batuta, começa o dia com os primeiros raios de sol. É hora de acordar, tomar café, locomover-se para o trabalho, executar as tarefas do dia na empresa ou escola e, ao final da tarde, é o momento de voltar para casa, jantar e dormir para, no dia seguinte, repetir praticamente as mesmas ações e situações.

O ritmo também é um dos elementos básicos da poesia, da música e de outras formas de expressão da arte.

Como se pode observar, o ritmo integra tudo o que existe no grande Universo. Faz-se presente na natureza, em todas as formas de vida e em suas funções orgânicas. Ele é o impulso ou o estímulo que caracteriza a vida.

Em "A sabedoria do Sutra de Lótus", Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional, comenta a esse respeito: "Certamente, há um ritmo no Universo. E o ritmo de um indivíduo pulsa em perfeita harmonia com ele. Parece-me que a vida, em essência, é uma expressão da ressonância harmoniosa entre o macrocosmo do Universo e o microcosmo de nossa vida".2 Com base nesse comentário de Daisaku Ikeda, o ritmo da vida humana está, em sua essência, em harmonia com o ritmo do Universo. Então, por que muitas vezes ocorre de as pessoas adoecerem, de nada do que planejaram dar certo a ponto de pensarem que o Universo inteiro está conspirando contra elas?

Segundo os ensinamentos do Budismo de Nitiren Daishonin, a doença é um dos quatro sofrimentos naturais da vida (os outros três são: nascimento, velhice e morte)3 pelos quais todos, sem exceção, passam, ou seja, constituem o próprio ritmo da vida. No entanto, há casos em que a doença é provocada por um descuido da própria pessoa. Tudo ocorre como conseqüência ou efeito de uma causa praticada pelo indivíduo. Assim, se algo não saiu conforme o esperado, há uma causa ou razão para isso. Com base nesse raciocínio, surgem as questões: uma pessoa pode alterar o ritmo de sua vida, da natureza que a rodeia? Ela pode fazer com que o Universo conspire ou não a seu favor? A resposta para essas questões é sim. Isso pode ser observado na degradação ambiental, nas mudanças súbitas do clima como efeitos da interferência do homem. Na saúde também, há vários problemas que poderiam ser evitados se o ritmo correto ou natural da vida fosse respeitado.

Ritmo e saúde

Segundo estudos do especialista em Fisiologia normal e patológica, Dr. José Anías Calderón, o ritmo dos seres vivos se desenvolve com o processo evolutivo, de acordo com sua adaptação ao meio ambiente. Por exemplo, o sinal da luz solar proporciona a sucessão da noite e do dia, as mudanças das estações, a flutuação da condição do tempo, assim como a interação entre os animais, e destes com seu hábitat, o que determina o ritmo vital dos seres vivos.

Dessa maneira, um grupo de animais adotam o regime de atividade noturna, com o sono e repouso diurno; outros, geralmente os mais desenvolvidos (incluindo os humanos) descansam à noite e entram em atividade de dia.

De acordo com esse regime diurno e noturno, desenvolvem-se neles seus ritmos alimentares, de sono, vigília, descanso e trabalho. Nos órgãos e sistemas dos seres vivos, tudo está vinculado entre si e subordinado ao ritmo do dia solar principalmente.

Atualmente mais de cem sistemas fisiológicos e aproximadamente trezentos processos e funções biológicas que possuem certa periodicidade, geralmente dentro das 24 horas do dia, são conhecidos.

Todos os sinais de luz, som, temperatura e demais fatores vitais que rodeiam as pessoas determinam o funcionamento rítmico de seu organismo. Está demonstrado que se esses sinais se modificam por 21 dias, determinarão mudanças nos ritmos do corpo.

Exemplos de alteração do ritmo podem ser observados em viagens longas, em que há mudança de fuso horário, e na troca de turnos no trabalho. Levam-se alguns dias até que as pessoas se acostumem à mudança nos horários, sentindo sono quando deveriam estar despertas e vice-versa.

Quando ocorrem alterações no ritmo, há perda de equilíbrio orgânico e aumentam as possibilidades de estresse e de doenças.

Ao contrário, quando as pessoas recuperam o ritmo da vida, conseguem realizar em duas horas o que antes levavam quatro.

Por essa razão, um alerta: cuidado com o ritmo acelerado e extremamente agitado do dia-a-dia. Atente para os seguintes pontos: organize sua vida com períodos de trabalho e de descanso estáveis, mantenha uma alimentação adequada e em horários regulares e procure ter um bom sono.

Esses cuidados com o ritmo podem ajudar a pessoa a chegar à velhice o mais sã possível.

Será impressão ou o tempo está passando mais depressa?

"Como o tempo voa!", "Parece que foi ontem!", as pessoas exclamam admiradas e, ao mesmo tempo, preocupadas ao verem que não conseguiram cumprir seus compromissos.

Essa sensação de que o tempo está passando mais rápido deixa as pessoas ainda mais ansiosas.

Na realidade, há uma aceleração da expansão do Universo e, conseqüentemente, do tempo. No entanto, isso ocorre em escalas que não podem ser sentidas pelos seres humanos.

A impressão de que o tempo está acelerando é mais uma conseqüência da percepção, da rotina em que as pessoas vivem. A sensação do tempo depende das experiências vivenciadas. A mente humana sente o tempo passar pelos movimentos percebidos ou da rotina e isso é registrado no cérebro. Ou seja, quanto mais habituais forem as ações ou os movimentos, mais rápido o tempo parecerá passar. Por exemplo: para um motorista principiante chegar a um lugar que não conhece bem, pode parecer uma eternidade. Ele tem de prestar atenção à troca de marchas, a tudo que ocorre ao seu redor para não causar ou sofrer acidentes, ao caminho que deve seguir para não se perder, aos sinais de trânsito. Numa segunda vez, todas essas ações se tornam mais fáceis, quase mecânicas para ele. Quanto mais ele as repetir, mais rápido o tempo lhe parecerá passar, a ponto de deixar de prestar atenção a detalhes de suas próprias ações.

Quanto mais as pessoas avançam na idade, mais são as experiências vividas e mais rápido os anos parecerão passar.

O tempo é o mesmo para todos. Um dia tem igualmente 24 horas. No entanto, são as pessoas que fazem o ritmo de sua vida diária.

No ritmo da Lei

O Budismo de Nitiren Daishonin elucida que tudo é regido pela Lei universal de Nam-myoho-rengue-kyo. Sinteticamente, nam é a transliteração da palavra sânscrita namas e significa "devotar a própria vida"; myoho, "Lei Mística"; rengue, "flor de Lótus" ou "simultaneidade de causa e efeito"; e kyo, sutra, ensinamento, a voz do Buda. Kyo significa também ritmo, sons e vibrações da vida que permeiam o Universo. Ainda, eternidade, continuidade da vida pelo passado, presente e futuro.4

Nesse sentido, quando uma pessoa recita o Nam-myoho-rengue-kyo, sua vida entra em perfeita harmonia com o Universo. Por que isso acontece?

Segundo os ensinamentos budistas, todas as pessoas possuem dez estados de vida: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda. De acordo com o estado de vida em que elas se encontram, conseguem influenciar o ambiente ou são influenciadas por ele. Elevar seu estado de vida é o objetivo primordial do budismo, para que manifestem a sabedoria de conduzir tudo ao seu redor de maneira correta e segura.

O Nam-myoho-rengue-kyo é a energia máxima do Universo. Ao recitá-lo, essa energia se manifesta na vida da pessoa e seu estado de Buda inerente é ativado. Quanto maior for a energia positiva, maior serão a força e a sabedoria manifestadas na vida de uma pessoa, proporcionando sua mudança interior e contribuindo para que outras pessoas façam o mesmo. O presidente Ikeda comenta: "No Budismo de Nitiren Daishonin, uma condição essencial para atingir a iluminação é a recitação da frase Nam-myoho-rengue-kyo. A esse respeito, o Buda diz: 'Praticar simplesmente os sete caracteres do Nam-myoho-rengue-kyo pode parecer limitado, mas como esta lei é a mestra de todos os budas do passado, presente e futuro, a mestra de todos os bodhisattvas do Universo e o guia que possibilita a todos atingirem a estado de Buda, sua prática é incomparavelmente profunda'. Convicto de que a suprema iluminação deve ser acessível a todos, Daishonin estabeleceu esse modo simples de prática que qualquer pessoa pode realizar e chegar à verdade absoluta".5

O Buda Nitiren Daishonin não revelou o Nam-myoho-rengue-kyo como energia máxima do Universo de forma aleatória. De acordo com seus ensinos, tudo no Universo está sujeito a um único princípio ou Lei. Compreendendo essa Lei, um indivíduo pode manifestar o potencial inerente em sua vida e atingir uma perfeita harmonia com seu ambiente.

Estudando profundamente o Sutra de Lótus, Nitiren Daishonin chegou à compreensão de que sua essência está contida na palavra Nam-myoho-rengue-kyo. Além disso, ele deu a essa Lei uma forma concreta ao inscrevê-la no mandala chamado Gohonzon para que as pessoas pudessem manifestar a sabedoria do Buda e atingir a iluminação. Em seu tratado intitulado "O objeto de devoção para a observação da mente", ele declara que ao recitar o Nam-myoho-rengue-kyo com fé no Gohonzon, a materialização da Lei universal, é possível revelar a própria natureza de Buda, pois, assim como as ondas de rádio, que são imperceptíveis aos olhos, mas que cruzam o mundo e se tornam audíveis na medida em que o receptor sintoniza a freqüência das ondas, o Nam-myoho-rengue-kyo possibilita que a vida da pessoa passe a vibrar na mesma freqüência harmoniosa do Universo.

Ainda segundo o Budismo de Nitiren Daishonin, todos os fenômenos estão sujeitos ao princípio de causa e efeito. Conseqüentemente, a atual condição de vida de uma pessoa é o resultado de todas as causas feitas no passado. Por meio da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo pode-se criar a mais fundamental das causas, que contrabalançará os efeitos negativos do passado e conduzirá à felicidade absoluta.

Nesse sentido, para estar em ritmo com o Universo, é fundamental recitar o Nam-myoho-rengue-kyo. Nesta simples, porém, poderosa palavra, está contida toda a Lei que rege o Universo. Ao recitá-la, é como se pessoa estabelecesse um diálogo com o Universo e, assim, manifestasse a sabedoria para entrar em sintonia com ele e colocar sua vida na mesma órbita. Sobre isso, o presidente Ikeda escreveu: "As orações embasadas na Lei Mística não são abstratas. Nas profundezas da vida elas manifestam-se concretamente. Oferecer oração é o mesmo que conduzir um diálogo, um intercâmbio com o Universo. Quando oramos, abraçamos o Universo com nossa vida, ou itinen (determinação). A oração é uma luta para expandir nossa vida".6

É primordial estabelecer um ritmo de avanço na vida para que não haja arrependimentos futuros. Possibilitar que as pessoas sejam verdadeiramente felizes é o objetivo fundamental da prática budista. Todos podem entrar nesse ritmo. Mas, para isso, é preciso sair da zona de conforto e, então, dar um novo impulso na vida todos os dias, não se permitindo cair na rotina e tendo sabedoria para conduzir a vida num ritmo de alegria rumo à verdadeira realização.

O presidente Ikeda escreveu: "Todo o Universo está tocando um 'som maravilhoso'. O próprio Universo é uma sinfonia da vida, um coral cantando por todos os seres e fenômenos — uma serenata, um noturno, uma balada, uma ópera, uma suíte. O Universo toca todos os 'sons maravilhosos'. A base disso tudo é a Lei Mística. É o Nam-myoho-rengue-kyo. (...) Recitar Daimoku é como cantar uma obra musical".7

O ritmo frenético da vida não pára. O tempo parece passar cada vez mais rápido. É preciso ter muita sabedoria para aproveitar cada segundo e estar no ritmo de avanço do próprio Universo. Caso contrário, a pessoa pode se perder e não mais encontrar significado em sua existência. É justamente para isso não ocorrer que existe a prática budista.

NOTAS 1. The Writings of Nichiren Daishonin, pág. 536. 2. Brasil Seikyo, edição nº 1.424, 2 de agosto de 1997, pág. 3. 3. Leia mais a respeito na Terceira Civilização, edição nº 452, abril de 2006, págs. 6-15. 4. Leia mais a respeito no Especial "Lei Mística: o caminho para a felicidade absoluta". Terceira Civilização, edição nº 445, setembro de 2005, págs. 7-19. 5. Terceira Civilização, edição nº 445, setembro de 2005, pág. 8. 6. Apostila do Exame de Budismo de 1998, págs. 40-41. 7. Brasil Seikyo, edição nº 1.555, 13 de maio de 2000, pág. A3.

Ritmo e música

 

Musicalmente falando, a palavra "ritmo" sugere duas interpretações: uma sucessão de sons e silêncios organizada em sua duração (longos ou curtos) e o conjunto de sons dentro de um contexto temporal, caracterizando o que também pode ser chamado de gênero, tal como o samba, o rock, a valsa, e assim por diante.

O ritmo faz parte do nosso corpo a começar pelo batimento constante do nosso coração. Em função dessa característica orgânica, quando as notas musicais se organizam no tempo, formando um agrupamento de durações que se repetem, ocorre um verdadeiro fenômeno em nossa resposta corporal: sentimos vontade de dançar. É lógico que uma organização rítmica pode ser estimulante ou não, e isso vai depender de quem está produzindo esses sons.

Podemos dizer que o ritmo dentro de um contexto musical pode nos encaminhar a boas ou más sintonias. Da mesma maneira, um grupo de músicos que toca junto comunica o que há de mais verdadeiro na relação entre eles, também por meio da sintonia rítmica.

Já estive presente em apresentações musicais em que, num dado momento, apenas um percussionista concentrou e emocionou toda a platéia com seu ritmo vital. Nesse momento, o ritmo traduz a história, o sentimento e a cultura de quem está tocando. São apenas sons, sem melodia, organizados no tempo, que se transformam em plena vida.

Como digo aos meus alunos, a maioria crianças, a música toca o nosso coração quando sentimos o pulso da canção. Não existe teoria que substitua a escuta de uma boa música e um ambiente propício para que nosso corpo se solte e seja livremente conduzido pela combinação rítmica e melódica dos sons. Quando todos tiverem essa oportunidade e estimularem essa prática em seu dia-a-dia, certamente o mundo se tornará bem melhor.

Ritmo e ciência

 

Por meio dos estudos científicos, o homem tem procurado descrever os inúmeros fenômenos que ocorrem na natureza. Um exemplo clássico no campo da Física é a lei da gravidade. Por que os objetos caem? O que está por trás desse fenômeno? O famoso cientista Isaac Newton, observando os efeitos da força entre os corpos materiais, descreveu a lei da gravidade. Essa força tem explicado a manutenção das órbitas da Terra e dos outros planetas em torno do Sol, assim como a Lua em sua órbita ao redor da Terra.

Por outro lado, o homem, em busca da compreensão do que se passa no mundo das mínimas partículas deste Universo, vem revelando inúmeros mistérios que ocorrem em torno de um átomo. Sabe-se que cada tipo de átomo tem comportamentos específicos e, nesse sentido, os cientistas podem estudá-lo com muita precisão. Mesmo os elementos do nosso organismo são fundamentalmente constituídos de átomos com comportamentos específicos. Ainda nesse campo do mundo extremamente pequeno, por exemplo, Max Planck, físico alemão considerado o "Pai da Teoria Quântica", conseguiu descrever o fenômeno da emissão de luz de um corpo material. Sabe-se que hoje em dia a luz emite energias em pacotes muito bem definidos que são conhecidos como quanta.

Por meio do entendimento desses complexos fenômenos da natureza, o homem conseguiu desenvolver as mais sofisticadas tecnologias. Um exemplo disso é o avanço no campo da telecomunicação. O uso da telefonia celular foi possível depois que os mecanismos que ocorrem na transmissão de ondas eletromagnéticas foram desvendados.

Enfim, em nosso Universo existem inúmeros e complexos fenômenos na natureza. E os cientistas vêm aos poucos desvendando e elaborando explicações científicas mediante equações matemáticas que podem ser utilizadas em qualquer parte do planeta. Exatamente por esses fenômenos existentes em nosso Universo terem comportamentos muito bem definidos que podemos dizer que há um ritmo em nosso mundo, não somente no mundo invisível como também neste imenso mundo cósmico que funciona de forma perfeitamente fantástica e harmônica.

Ritmo e dança

 

O ritmo é um fator essencial para que a dança se desenvolva, pois ela não existe sem ele, embora se possa dançar sem música, deixando um vazio no ar.

Há duas conotações de ritmo: o ritmo da música em que se dança e o ritmo corporal, que está relacionado ao ouvido musical considerado afinado quando se dança dentro dos compassos musicais.

Em relação ao ritmo corporal, dentre as pessoas que dançam, existem aquelas que possuem ritmo e as que não o tem, e isso não é tão relevante quando não se tem a dança como profissão.

O profissional da dança tem como obrigação dançar no ritmo, no compasso, na cadência. Os demais podem aguçar sua percepção auditiva por meio de um treinamento. Dançar fora do ritmo é visualmente ruim e causa uma sensação de estranhamento para quem observa e isso pode ser melhorado aguçando a percepção musical auditiva. Para entrar no ritmo da dança, é necessário, entre outras coisas, aprender a ouvir e a perceber.

Do ponto de vista da dinâmica corporal, podemos utilizar os termos gregos em relação às batidas dos pés na marcação rítmica: "ársis" e "tésis". O primeiro significa levantar com o sentido de esforço e o segundo, pousar com o sentido de relaxamento. Assim, o silêncio poderá figurar como "ársis" ou "tésis" e, diferentemente do que geralmente se imagina, nota-se que no silêncio também há ritmo. A dança flamenca, por exemplo, utiliza-se muito desses silêncios para que haja a marcação rítmica entre uma batida de pé e outra. Podemos perceber, principalmente nessa modalidade, a sutileza do ritmo. Uma aceleração ou uma diminuição de velocidade faz uma enorme diferença. É o ritmo que dá vida a uma obra e é por meio dele que a vida se expressa.

Se pensarmos no fluir tranqüilo e contínuo de uma corrente de água; nos soldados em marcha; no tique-taque do relógio; no ritmo biológico e circadiano; no anda-pára de um congestionamento; nos batimentos cardíacos; no compasso de uma música, nos movimentos da dança, estaremos observando diferentes espécies de ritmo, cujo aspecto comum é a sincronia. Platão disse: "Vós distinguireis o ritmo no vôo de um pássaro, nas pulsações das artérias, nos passos de um dançarino, nos períodos de um discurso". O ritmo é um fator essencial para que uma dança ou a vida se desenvolva. Para finalizar, eu diria que o ritmo faz parte da vida e estará fora do contexto quem não buscar sintonia.

Ritmo biológico

 

Muitas vezes, nós nos deparamos com tantos afazeres que pensamos: "Bem que o dia podia ter umas quarenta horas!". Porém, para que o dia com esse tanto de horas fosse realmente produtivo, nosso organismo teria de passar por uma fase de adaptação, pois ele segue um ritmo, o ritmo circadiano (do latim circa diem, que significa "por volta de um dia"). Este ritmo regula todos os processos do corpo desde a digestão até a eliminação, desde o crescimento e a renovação das células, assim como a regulação de temperatura corporal, num ciclo de 24 horas.

O "relógio" que monitoriza todos esses processos encontra-se no cérebro, dentro do hipotálamo, acima da glândula pineal. Um dos hormônios produzidos por esta glândula, que influencia bastante o nosso dia-a-dia, uma vez que ele é indutor do sono, é a melatonina. A melatonina tem aumento de produção no início da noite e queda no final. É por esse motivo que temos sono à noite e, portanto, um dia com quarenta horas não renderia muito, pois teríamos de lutar contra o sono. Como a produção de melatonina é sensível à luminosidade (natural ou artificial), muitas pessoas que trabalham em turnos, de fato, conseguem se manter acordados de madrugada. Porém, cronicamente, podem apresentar fadiga, dores no corpo, cefaléia, irritabilidade e alterações cognitivas. Pessoas que viajam para locais de fusos horários diferentes também sofrem para se adaptar. Em geral, o organismo precisa de um dia para cada hora de fuso para se adaptar. Em outras palavras, pessoas que viajam para o Japão precisariam de doze dias só para o organismo se adaptar. É claro que isso nem sempre é viável, porém, é recomendável.

Respeitando-se nosso ritmo biológico, podemos obter o melhor das funções de nosso organismo, pois atualmente há estudos que investigam o aparecimento de várias doenças com a qualidade de sono/vida que as pessoas têm.

Tópicos de discursos de Daisaku Ikeda

 

"A Terra realiza a rotação em torno de seu eixo e ao mesmo tempo faz a translação em volta do Sol. O Sistema Solar, por sua vez, move-se no centro da galáxia conhecida como Via Láctea a uma velocidade de 220 quilômetros por segundo, ao passo que a Via Láctea também faz a rotação na forma de espiral. O Universo não fica parado nem por um momento. Ele se movimenta de acordo com um ritmo místico. E essa força eterna e suprema, essa Lei, esse ritmo é o Nam-myoho-rengue-kyo. Compreender essa Lei Mística significa possuir o supremo poder e sabedoria do Universo. Não há nada mais poderoso que isso. Conseqüentemente, não há nada a temer.

"O Universo está se movimentando. Todos os fenômenos estão num movimento dinâmico. Portanto, vamos fundir nossa vida vibrantemente com o ritmo do Universo e nos empenhar com toda a energia junto com a Soka Gakkai, a organização dedicada à concretização do desejo e do decreto do Buda, em prol da Lei e do Kossen-rufu. Todos os esforços que empreendemos para essa causa enriquecem nossa vida. Eles envolvem nossa família e nossos entes queridos em eterna boa sorte e benefícios. Por favor, creiam profundamente nisso."

(Brasil Seikyo [BS], edição nº 1.773, 27 de novembro de 2004, pág. A3.)


"Certamente, há um ritmo no Universo. E o ritmo da vida de um indivíduo pulsa em perfeita harmonia com ele. Parece-me que a vida, em essência, é uma expressão harmoniosa entre o macrocosmo do Universo e o microcosmo da nossa vida.

"Em termos de 'ritmo', o Universo em si produz um tipo de ritmo cósmico. É um ritmo benevolente que possibilita todos os seres vivos crescerem e se desenvolverem. Poderíamos até mesmo chamá-lo de 'comprimento de onda' de benevolência. Os seres vivos são 'receptores' que podem interceptar esse comprimento de onda. Não importando onde estejamos, quando 'sintonizamos' a 'freqüência' do estado de Buda, nossa vida é envolvida por essa benevolente melodia que nos infunde o espírito de desenvolver nossa vida e de auxiliar outros a fazerem o mesmo.

"Também poderíamos usar a imagem de um diapasão para descrever esse fenômeno. Se os senhores tivessem dois diapasões do mesmo comprimento de onda e fizerem vibrar um deles, o outro, mesmo que estivesse a uma certa distância, também começaria a vibrar espontaneamente.

"Continuando com essa analogia, quando o diapasão de nossa vida começa a vibrar com benevolência, então, mesmo que a princípio sejamos os únicos, outro diapasão começará a vibrar com a mesma benevolência. E embora no começo apenas dois ou três entrem no ritmo, outros com certeza seguirão. A benevolência possui certo 'comprimento de onda'; mas alguém tem de ser o primeiro a fazer vibrá-la. Entretanto, um diapasão não vibrará se for deixado sozinho num canto; para produzir som, deve-se colocá-lo de pé. O mesmo é verdadeiro com relação à nossa vida.

"No capítulo 'Surgimento da Torre de Tesouro', o encontro dos budas das dez direções é como vários diapasões começando a soar em uníssono como resposta às reverberações do diapasão do espírito de Sakyamuni para 'assegurar que a Lei perdure' (The Lotus Sutra, cap. 11, pág. 177). Isso ilustra perfeitamente o princípio da ressonância benevolente.

(BS, edição nº 1.424, 2 de agosto de 1997, pág. 3.)


"Enquanto recitamos com ressonância o Nam-myoho-rengue-kyo, o ritmo fundamental do Universo, trabalhamos, falamos e agimos em prol do desenvolvimento da sociedade, da paz mundial e da felicidade da humanidade. Não existe uma vida mais nobre do que essa. É por isso que pessoas de consciência do mundo inteiro estão buscando o budismo, a suprema Lei que permeia a vida e o Universo."

(BS, edição nº 1.638, 2 de fevereiro de 2002, pág. A3.)


Revista Terceira Civilização: DEZEMBRO DE 2006 — EDIÇÃO Nº 460

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