Parte III - Fundamentos do Budismo: Macrocosmo e microcosmo, uma busca pelo uno

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Há hoje um consenso em todo o mundo, nos diversos campos da atuação humana, de que, de alguma forma, macro e microcosmo estão intimamente relacionados. De fato, afirmar o contrário seria ir contra quase todas as tendências existentes. Chega a causar admiração imaginar que, em eras anteriores, o homem considerava o macro e o micro como sistemas separados e sem nenhum vínculo entre si. A história dessa fenomenal mudança de visão é a própria história do pensamento ocidental, como se verá nas páginas seguintes. E ela aponta para uma direção: a de que a conscientização quanto a essa questão — mais especificamente, que não há motivos para uma distinção formal entre o macro e microcosmo — traz também uma maior conscientização do papel do homem neste vasto, enigmático, porém magnífico, Universo.

Em tudo, um pouco de tudo — a cisão entre o macro e o micro

Na história do Ocidente, foram os gregos os primeiros a procurar entender o que é o Universo e tudo o que nele existe. A idéia básica era simples: para se entender o todo (o macrocosmo), é preciso primeiro entender do que ele é feito. Assim, a busca pelo conhecimento do Universo iniciou com o estudo da menor estrutura de que ele seria feito (o microcosmo). Leucipo e Demócrito (com maior ênfase neste último) foram os primeiros a postular a existência de um vazio em meio ao qual se moveriam os átomos (as menores partículas existentes). Para eles, todo o Universo seria basicamente um vazio contínuo, incorpóreo e infinito entremeado por partículas corpóreas e descontínuas, os átomos.1

Atualmente, a ciência sabe com certeza que o átomo não é a menor partícula do Universo e se especula que o "vácuo" de que ele é feito não seja exatamente vazio [leia mais adiante]. No entanto, pode-se perceber já nesta alvorada do pensamento ocidental uma tentativa abrangente de compreender (ou pelo menos de se equacionar) o Universo, busca esta que originou um sem número de diferentes cosmogonias.

Leucipo, Demócrito e outros gregos são considerados os pais da filosofia ocidental. E logo se percebeu que a Filosofia, em sua hercúlea tarefa de universalizar o conhecimento, sozinha, era insuficiente. Aos poucos, o homem se deu conta de que era preciso se especializar. Assim, aos filósofos, antes ávidos em conhecer tudo, coube a missão de investigar as questões da alma. Alguns, como Hipócrates, que buscavam suas respostas na fisiologia humana, deram origem às Ciências Biológicas. Da mesma forma, a Matemática, Química, Astronomia e praticamente todos os grandes ramos das Ciências Naturais originaram-se dos esforços pioneiros dos filósofos gregos em sua busca pelo conhecimento.

Assim, a própria necessidade pela especialização do conhecimento — que, de fato, rendeu imensos progressos à humanidade —, criou o que poderia ser considerado uma compartimentalização do saber, gerando também a distinção entre o macro e o microcosmo.

Em busca do uno perdido: um eterno retorno



Mas algo estava errado. Algo sempre esteve errado. É como se bem no íntimo da alma humana, alguma coisa martelasse a mente do homem lembrando que a compreensão do Universo estava incompleta sem uma busca pelo uno, o que também pode ser entendido aqui, talvez, como uma ânsia por uma verdade universal ou um retorno à origem, ao estado original, quando tudo era perfeito.

Afinal de contas, a Natureza, com suas leis harmônicas, não cessava de dar pistas da existência de uma ordem natural em tudo. Por exemplo, desde a Antiguidade se conhecia fatos como a Razão Áurea [leia no box das págs. 8–9] e a mitologia e as artes jamais se cansaram de expressar sua preocupação pelo retorno do homem à origem: não seria o esforço de Adão e Eva de voltar ao Paraíso como um retorno à sua condição primeva? Os cavaleiros do rei Arthur não procuravam retornar o santo cálice ao seu local de origem? Moisés não prometeu retornar todo o seu povo à terra prometida? Mesmo clássicos modernos baseados em tradições mitológicas, como a trilogia O Senhor dos Anéis, apregoam o retorno à uma origem harmônica e perfeita.

Pode-se afirmar que, de certa forma, a religiosidade e as diferentes correntes místicas em geral de certa forma tentaram, ou tentam, ocupar uma função na psique humana que as próprias ciências naturais não foram capazes de preencher.

Na filosofia, Friedrich Nietsche, partindo de duas premissas básicas — o tempo é infinito e as forças são finitas — acreditava que a idéia do retorno era uma necessidade lógica. É dele a famosa Doutrina do Eterno Retorno, e são dele estas palavras: "Pensemos este pensamento em sua forma mais terrível: a existência, assim como é, sem sentido e alvo, mas inevitavelmente retornando, sem um final ao nada: o eterno retorno.

"Essa é a mais extrema forma do niilismo: o nada (o 'sem sentido') eterno!

"Forma européia do budismo: a energia do saber e da força coage a uma tal crença. É a mais científica de todas as hipóteses possíveis. Negamos alvos finais: se a existência tivesse um, teria alcançado."2 [NR: Os grifos são do próprio Nietzsche.]

No campo da psicanálise, Carl Jung foi um dos primeiros a identificar o retorno ao uno como uma necessidade psicológica natural do ser humano. Para ele, esse retorno seria a busca pelo Self (em alemão, Selbst): "Um novo centro ontológico e antropológico é retomado pelo Romantismo e pela psicologia junguiana, o qual é chamado de Selbst. Selbst é um substantivo alemão neutro que revela a concepção do homem que se funda sobre tudo que se denominou de substância ou sobre tudo que se denominou de espiritualmente essencial. O Selbst para os românticos seria o centro que se situa no coração espiritual de cada ser humano. Centro de convergência do 'de fora' e do 'de dentro', espaço da imaginação ativa, expressão da unidade dos opostos, e onde o microcosmo que é o homem une-se ao macrocosmo que é o divino ou a Natureza, o que define a eternidade da nossa existência e de nossa consciência."3

NOTAS 1. Cf. Pré-Socráticos, Coleção Os Pensadores, São Paulo, Editora Nova Cultural, 1996, pág. 31. 2. Nietzsche, Coleção Os Pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 1987, vol. II, pág. 163. 3. http://www.rubedo.psc.br/artigosb/visaopsi.htm

A Física moderna e a mente de Deus

 

Se, por um lado, as ciências naturais, a mitologia e as artes sempre intuíram a necessidade de um retorno ao uno — em outras palavras, a reunificação do macrocosmo e do microcosmo —, por outro lado, não se pode negar que atualmente as ciências exatas estão dando passos gigantescos nessa direção. Segundo alguns cientistas, é apenas uma questão de tempo.

E o principal protagonista disso é uma área do conhecimento científico relativamente nova, comparada às outras: a Física. Atualmente, os cientistas explicam o Universo com base em duas grandes correntes teóricas: a Teoria da Relatividade Geral e a Mecânica Quântica. Infelizmente, ambas descrevem o Universo apenas de forma parcial.

A Teoria da Relatividade Geral, elaborada pelo gênio alemão no início do século XX, descreve a força da gravidade e o Universo em grande escala. A Mecânica Quântica é a física das pequenas partículas, em escalas que chegam a um milionésimo de milionésimo de centímetro [leia no box das págs. 12–13]. Atualmente, os cientistas buscam uma terceira teoria que unifique as duas primeiras e que chamam de Teoria Quântica da Gravidade. Em outras palavras: a ponta de lança da Física moderna hoje é justamente encontrar uma linha de pensamento que descreva o macrocosmo e o microcosmo, ao mesmo tempo. Sem exageros, aquele que primeiro conseguir unificá-las certamente se juntará a Albert Einstein no panteão dos grandes intelectos da humanidade.

Einstein (que, aliás, rejeitava a idéia bíblica de Deus) afirmou que "Deus não joga dados", para defender a existência de uma ordem no Universo. Talvez numa alusão ao cientista alemão, Stephen Hawking, um dos mais importantes físicos teóricos da atualidade, assim descreveu sua própria busca por uma teoria unificada: "Se realmente descobrirmos uma teoria completa, seus princípios gerais deverão ser, no devido tempo, compreensíveis para todos, e não apenas para uns poucos cientistas. Então, todos nós, filósofos, cientistas e simples pessoas comuns, seremos capazes de participar da discussão de por que é que nós e o Universo existimos. Se encontrarmos uma resposta para essa pergunta, seria o triunfo último da razão humana — porque, então, conheceríamos a mente de Deus".4

A Mecânica Quântica ou Física Quântica e a Relatividade Geral revelaram um leque de novas e antes impensadas probabilidades. Com base particularmente em complexas equações matemáticas, esses novos ramos das ciências prevêem a existência de buracos negros, espaço–tempo curvo e pontes entre diferentes regiões do espaço–tempo (hoje denominadas de "buracos de minhoca"). Elas também afirmam que o espaço "vazio" poderia, na verdade, estar preenchido com pares de partículas e antipartículas virtuais. Essas partículas teriam comprimento, mas nenhuma outra dimensão, assemelhando-se a finíssimas cordas, o que ficou conhecido como Teorias das Cordas (por serem várias teorias que adotam essa hipótese).5

Mas nem tudo é consenso. Alguns autores mais críticos argumentam que, pelo fato de a Mecânica Quântica ser extremamente complexa e por haver um universo (literal e metaforicamente falando) entre ela e a Teoria da Relatividade Geral, algumas de suas conclusões poderiam levar a se afirmar quase tudo sobre tudo, por exemplo, a existência de fenômenos paranormais, como a telepatia, levitação, cura pela imposição de mãos, teleportação, e assim por diante.6

Um Universo sistêmico

No início do século XX, uma nova forma de pensar começou a tomar forma e a expandir-se para as artes e as ciências humanas, ganhando terreno em disciplinas como a Lingüística, a Psicologia, a História, a Semiótica, a Epistemologia, a Matemática e uma em especial: o Estruturalismo. Basicamente, é uma forma de pensar e um método de análise que examina grandes estruturas, as relações e funções entre seus componentes e as relações com outras estruturas. Nomes como Lévi-Strauss, Althusser, Merleu-Ponty, Bachelard, Foucault, Derrida, Adorno, Arendt, Eco, Peirce, Saussure, Barthes e muitos outros passaram a ser conhecidos de quase todos os estudantes de Ciências Humanas.7 Sua importância para se entender a cultura do século XX é tamanha que o Estruturalismo ganhou força de movimento, chegando a influenciar ideologias, como o Marxismo.

De certa forma, o Estruturalismo pode ser pensado como uma tentativa de se entender agregados de sistemas. Em outras palavras, estudar as relações entre as partes para se entender o todo. Poderia se pensar, com certa dose de ironia e liberdade de expressão, que a busca pelo conhecimento compartimentalizado iniciado com os gregos (para se entender o microcosmo), no século XX voltou-se a totalizar na busca da compreensão do macrocosmo.

A partir dessas premissas, autores mais recentes propuseram uma união do racional ao espiritual, surgindo assim as abordagens holísticas, justamente para se chegar a um denominador comum entre o macro e o microcosmo. Entre esses, um dos autores que mais se destacam é Fritjof Capra. Por exemplo, ele afirma: "A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e de integração. Os sistemas são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às de unidades menores. Em vez de se concentrar nos elementos ou substâncias básicas, a abordagem sistêmica enfatiza princípios básicos de organização. Os exemplos de sistemas são abundantes na natureza. Todo e qualquer organismo — desde a menor bactéria até os seres humanos, passando pela imensa variedade de plantas e animais — é uma totalidade integrada e, portanto, um sistema vivo. As células são sistemas vivos, assim como os vários tecidos e órgãos do corpo, sendo o cérebro humano o exemplo mais complexo. Mas os sistemas não estão limitados a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade são exibidos por sistemas sociais — como o formigueiro, a colméia ou uma família humana — e por ecossistemas que consistem numa variedade de organismos e matéria inanimada em interação mútua. O que se preserva numa região selvagem não são árvores ou organismos individuais, mas a teia complexa de relações entre eles."8

Assim, não haveria uma separação clara e definida entre o macrocosmo e o microcosmo, e eles poderiam ser concebidos como uma infinidade de sistemas entrelaçando-se, influenciando-se e formando um único e gigantesco organismo. O próprio uno em si.

Budismo: sabedoria universal

 

Para se entender qualquer filosofia oriental, é necessário, antes de mais nada, que o indivíduo se abstraia da estrutura greco–hebraica pela qual se apóia o modo de vida ocidental. Harold Bloom, um dos mais importantes e conhecidos críticos literários do mundo, acredita piamente que o homem do Ocidente pensa como os gregos (que, afinal, fundaram a civilização ocidental) e sente como os hebraicos (que, por sua vez, fundaram as mais importantes religiões do Ocidente).9

O budismo não é exceção. Somente a partir dessa abstração é possível entender plenamente conceitos como "existência e não-existência" (kuu), "três mil mundos num único momento da vida" (itinen sanzen) e outros. E somente assim é possível se admirar com as espantosas semelhanças entre esses conceitos e alguns mistérios que apenas recentemente as ciências, em particular a Física, vêm desvendando.

Einstein, com sua Teoria da Relatividade Geral, demoliu totalmente a noção convencional de tempo, ao explicar que ele é relativo, o que muito lembra o conceito de "tempo sem início" (kuon ganjo). A Mecânica Quântica, ao propor a existência de matéria e antimatéria e afirmar que o "vazio" do Universo não é exatamente "vazio", parece fazer ressoar o conceito budista de "existência e não-existência" (kuu).

Assim como a Física propõe a teoria do Big Bang para explicar a origem do Universo, o budismo também fala de um passado inimaginavelmente remoto, chamado gohyaku jintengo, e de uma causa original e um efeito original.

Conceitos como a unicidade do ser vivo e seu ambiente (esho funi) e da mente e seu corpo (shiki shin funi) são hoje bem assimilados pela Ecologia e pela Medicina [leia nos boxes das págs. 14 e 15].

O budismo também propõe um retorno do indivíduo (o microcosmo) ao seu "eu" original e macrocósmico —, em outras palavras, a manifestação do estado de Buda original de cada um. Além disso, a idéia de que todos os fenômenos no Universo estão relacionados entre si também encontra eco no budismo, que explica o conceito de origem dependente [engui, leia no box da pág. 15]. E os impressionantes esforços dos cientistas para elaborar uma Teoria da Gravidade Quântica (e, assim, unificar suas concepções de macrocosmo e microcosmo) encontram paralelo nos igualmente impressionantes esforços de Nitiren Daishonin de desvendar uma lei geral do Universo, unificando os mundos natural e espiritual, a qual ele denominou Nam-myoho-rengue-kyo.

Por outro lado, é grande o número de autores ocidentais que associam conceitos budistas ao pensamento ocidental. Além dos já mencionados Nietzsche, Jung, Capra, poderiam ainda ser listados autores como Arthur Schopenhauer, James Lovelock e outros.

O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, assim explica a visão budista de macro e microcosmo: "O budismo afirma que a vida interior dos indivíduos corresponde à vastidão do 'cosmo exterior' do mundo dos fenômenos. O mundo interior vibra com a ilimitada energia da benevolência, amor, sabedoria, razão, assim como as várias emoções, impulsos e desejos. A cada instante, essa energia surge de dentro para criar, em interação com o cosmos que habitamos, um novo ser, um novo mundo. Quando nosso cosmo interior está em harmonia dinâmica, sua energia criativa é comunicada ao mundo em ondas de alegria, encontrando uma expressão concreta nas ações marcadas pela razão, sabedoria e benevolência. Em contraste, quando o cosmo interior perde seu ritmo essencial, sua energia assume aspectos destrutivos, agressivos e dominadores, como a cobiça e outros impulsos obscuros. Nessas circunstâncias, a vida interior é uma terra desolada. A desertificação exterior do planeta corresponde exatamente à desertificação espiritual da vida interior.

"A forma como nos relacionamos com nós mesmos (nossa vida interior) está intimamente ligada à forma como nos relacionamos com nossos companheiros (nossa vida na sociedade). E isso está inextricavelmente ligado a como nos relacionamos com o mundo natural. Seres humanos cujo ambiente interno é despojado e desolado caem facilmente presas de uma espécie de egocentrismo que inevitavelmente se manifesta em atos de dominação, exploração e destruição nos mundos social e natural.

"Mas o inverso é igualmente verdade. A natureza íntima e mutuamente interativa da ecologia da Terra, da sociedade humana e da vida interior dos indivíduos significa que a influência harmonizadora da benevolência e da sabedoria que brota de dentro do indivíduo pode ter um efeito transformador positivo até mesmo nos problemas em escala global. A chave para a transformação é a vontade consciente nas profundezas da vida do indivíduo.

"Focando inicialmente nossa vida interior — nosso relacionamento com nós mesmos — o budismo revela e ilumina a lei de causalidade que governa os processos pelos quais tanto os padrões positivos (criativos) quanto os negativos (destrutivos) são registrados e as energias potenciais armazenadas na profundeza de nossa vida. Ao mesmo tempo, o budismo objetiva direcionar a luz da sabedoria budista para o exterior, para revelar a natureza verdadeira e original de todos os fenômenos e gerar suas possibilidades mais criativas, incluindo as sociedades e culturas humanas.

"O mundo fenomenal constitui uma grande rede de elementos mutuamente interativos e sobrepostos, entrelaçados por meio dos fios da causalidade. Essa rede de relacionamento mútuo estende-se para o exterior, abrangendo os mais distantes limites do Universo. Dessa forma, o budismo vê todos os fenômenos do Universo — não somente aqueles que são explicitamente vivos do ponto de vista biológico — como partes integrantes da vida, como entidades 'vivas'."10

Cada vez mais, ciência e budismo parecem chegar a uma convergência de idéias e conceitos sobre os grandes mistérios do Universo. A Física, e em especial a Teoria da Gravidade Quântica, oferece perspectivas animadoras. Mas, aonde essa jornada humana para se entender a ordem do Universo levará? Que resultados trará? Ainda é cedo para respostas. De concreto, sabe-se apenas que essa é a mais fantástica jornada já empreendida pelo esforço humano em todos os tempos. Só essa jornada já valerá a pena.

Notas 4. Hawking, Stephen e Mlodinow, Leonard. Uma Nova História do Tempo. Rio de Janeiro, Ediouro, 2005, pág. 145. 5. Todos esses conceitos encontram-se no livro de Hawking & Mlodinow. 6. Cf. Toben, Bob e Wolf, Fred Alan. Espaço–Tempo e Além, Rumo a uma Explicação do Inexplicável — A Nova Edição. São Paulo, Editora Cultrix, 1982. 7. Uma introdução didática do pensamento estruturalista pode ser encontrada em Fifty Key Contemporary Thinkers — From Structuralism to Postmodernity, John Lechte, Londres e Nova York, Routledge. 8. Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo, Editora Cultrix, 1997, pág. 260. 9. Cf. Bloom, Harold. Onde Encontrar a Sabedoria. São Paulo, Editora Objetiva, 2005, pág. 50. 10. SGI Quarterly, abril de 2006, págs. 12–13.

Razão áurea

O homem sempre teve necessidade de estar ligado a crenças divinas e de buscar a origem do Universo, tentando encontrar nas respostas suas próprias raízes. Para tanto, procurou ordenar tudo que o rodeava. Dessa busca, pode-se dizer, chegou-se à razão áurea, também chamada de proporção áurea, razão de ouro, número de ouro, número áureo ou divina proporção. É uma constante transcendente que tem sido motivo de estudo desde os mais remotos tempos e representa, segundo os estudiosos, a mais agradável proporção entre dois segmentos ou duas medidas. Essa proporção foi identificada como sendo equivalente a 1,618, e convencionou-se chamá-la de Phi ( ), em homenagem ao arquiteto grego Fídias (Phidias), construtor do Partenon e que utilizou o número de ouro em muitas de suas obras.

Não se sabe ao certo quem começou a estudar esse misterioso número. A primeira definição dessa proporção aparece no livro II dos Elementos de Euclides, mas muitos acreditam que este se baseou em estudos anteriores de Theodoro de Cyrene ou de Pitágoras.

Como pode ser visto, o número Phi não é objeto exclusivo da Geometria. Sua utilização é freqüente em pinturas renascentistas. Este número está envolvido com a natureza do crescimento e pode ser encontrado na proporção em conchas (o náutilo, por exemplo), seres humanos (o tamanho das falanges, ossos dos dedos), plantas e em inúmeros outros exemplos que envolvem a ordem de crescimento.

O homem também se valeu da razão áurea para construir inúmeras obras e monumentos (outros exemplos famosos além do Partenon são as pirâmides do Egito), para compor peças musicais (há artigos que a relacionam às composições de Mozart, Beethoven e Schubert) por ser o número que expressa a mais perfeita relação de harmonia já conseguida pelas mãos humanas. Ainda hoje, faz-se presente nos estudos e criação de novos produtos para que sejam visualmente atrativos.

No entanto, torna-se difícil separar a eterna procura por relações com as divindades, iniciada pelos gregos, com relações matemáticas concretas. Em muitas situações não há respostas claras para questões sobre o surgimento da razão áurea em alguns elementos. Será que ela aparece por ser realmente importante ou é apenas uma "coincidência" forçada pelo homem? Essa incerteza, no entanto, é o que a torna ainda mais fascinante.

Se o ponto C é tal que AB/AC = AC/CB, então AB/AC = AC/CB = Phi

Euclides definiu a razão a partir de um segmento e usou essa razão para calcular áreas, construir o pentágono regular, o icosaedro e o dodecaedro.

Física Quântica

 

A Física Quântica é uma teoria elaborada pelo físico alemão Max Planck em 1900, portanto, há mais de um século. No entanto, ainda hoje causa muitas discussões entre físicos e filósofos. Quando Plank estudava a emissão de luz de um material, observou que, em certas temperaturas, a luz dava saltos de uma intensidade para outra. Pelo conhecimento da época, a intensidade da luz deveria variar continuamente. Mas os resultados da experiência teimavam em contrariar tudo o que era afirmado até então. Plank descobriu que a energia não é absorvida ou gerada de modo contínuo, mas sim em pequenos "pacotes", que batizou de quantum (ou quanta, no plural), palavra que significa quantidade, em latim. Na realidade, Planck não tinha a intenção de romper com a física tradicional, ou seja, a física clássica, mas apenas resolver um problema. Por ser uma teoria totalmente inédita, levou quase trinta anos para ser bem-definida, exigindo o trabalho dos físicos mais brilhantes do século XX, incluindo Albert Einstein. Os quanta só ganharam reconhecimento quando Einstein, em 1905, demonstrou cientificamente que eles realmente existiam e, mais tarde, ensinou como usá-los para gerar os poderosos raios laser que hoje em dia têm impacto de valor inestimável.

As aplicações desta teoria vêm ocorrendo continuamente. Na Física Quântica, em determinadas circunstâncias os elétrons encontram uma barreira extremamente fina e há probabilidade de que eles simplesmente a ignorem e sigam em frente, o que é chamado efeito túnel. Seria apenas mais uma descoberta teórica se, em 1981, uma equipe do laboratório da IBM em Zurique, na Suíça, não tivesse transformado essa maluquice do elétron num aparelho de enxergar átomos, o microscópio de efeito túnel. O invento valeu a Gerd Binnig e Heinrich Rohrer o Prêmio Nobel de Física, em 1986, e levou a um avanço extraordinário na indústria de componentes eletrônicos.

Planck certamente não poderia imaginar a contribuição que sua descoberta teria para os dias de hoje. A teoria quântica está presente na vida cotidiana de todos, por exemplo, em telefones celulares, CD players, computadores e em inúmeros equipamentos eletrônicos utilizados na atualidade. Foi também decisiva para os grandes avanços práticos e teóricos em áreas como Astronomia, Medicina, Química e Biologia. Na Biologia, os cientistas procuram relacionar alguns efeitos quânticos no cérebro através das redes neurais.

Seus conceitos ainda geram discussões acerca da forma como se vê o comportamento dos elétrons que constituem o átomo e que faz parte do universo em que todos vivem.

Em termos de teoria, é possível entender melhor os fenômenos desconhecidos do Universo, como a teoria do Big Bang. Na verdade, a tentativa de explicar os resultados experimentais de um comportamento da matéria implicou em uma nova teoria que revolucionou a forma de compreender a natureza do Universo.

Colaboração: Ricardo Yoshioka, vice-coordenador do Departamento de Cientistas (Depac) da Coordenadoria Cultural da BSGI.

Unicidade do ser vivo e seu ambiente (esho funi)

 

O princípio da unicidade do ser vivo e seu ambiente (esho funi) significa que a vida (sho) e seu ambiente (e) são inseparáveis (funi). Funi significa "dois no fenômeno, mas não dois na essência", ou seja, embora as pessoas percebam as coisas como algo separado delas, há uma dimensão de sua vida que é uma com o Universo. No nível mais fundamental da vida, não há separação entre o ser e o ambiente. Esse nível fundamental é chamado de realidade última e foi definido por Nitiren Daishonin como Nam-myoho-rengue-kyo.

Unicidade do corpo e da mente (shiki shin funi)

 

 

 

 

 

 

 

 

Origem dependente (engui)

 

Este conceito budista ensina que toda vida está inter-relacionada, que nada existe isoladamente.

Literalmente, o termo engui quer dizer "surgimento em conexão". Em outras palavras, todos os seres e fenômenos existem ou ocorrem somente por causa de sua relação com outros seres ou fenômenos. Tudo no mundo vem a existir em resposta a causas e condições.

Sakyamuni usou a imagem de dois feixes de junco encostados um no outro para explicar a origem dependente. Ele descreveu como os dois feixes podem manter-se de pé enquanto estiverem apoiados um no outro.

A vida dos seres desenvolve-se de forma dinâmica, numa sinergia de causas internas (personalidade, experiência, perspectiva sobre a vida, entre outras) e as condições externas e relações imediatas. Cada existência individual contribui para criar o ambiente que sustenta todas as outras existências.

O cânone budista apresenta uma parábola que mostra como todos os fenômenos se inter-relacionam gerando uma harmonia perfeita e sutil: "Suspensa no alto do palácio de Indra, o deus budista que simboliza as forças naturais que protegem e nutrem a vida, está uma enorme rede. Uma brilhante jóia está ligada a cada nó da rede. Cada jóia contém e reflete a imagem de todas as outras jóias da rede, que brilha com magnificência em sua totalidade".1 Essa descrição ilustra o conceito de origem dependente, expondo a simbiose do microcosmo e do macrocosmo, que se unem como um único organismo.

NOTA 1. Terceira Civilização, edição nº 345, maio de 1997, pág. 16.

JULHO DE 2006 — TC EDIÇÃO Nº 455

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