A influência árabe está até mesmo entre as crianças do Brasil. Histórias infantis como as de Aladim e Ali Babá fazem parte do imaginário e influenciam comportamentos entre os pequenos no país.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Reprodução/Villa Rica Reprodução/Villa Rica

A editora Villa Rica tem em seu catálogo livrinhos do Aladim

São Paulo – Quando tinha sete anos de idade, o brasileiro Rafael Maia não sabia muito bem ainda onde ficavam os países árabes, mas já tinha bastante familiaridade com um personagem daquela região. Rafael morava na cidade gaúcha de Canoas e tinha o livrinho Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. O garoto, hoje analista de suporte, com 23 anos, convivia com Aladim enquanto folheava as páginas ilustradas do seu livrinho e também quando sentava para jogar videogame com os amigos Leonardo e Thiago.

"O que me chamava a atenção na história era a vontade que o Aladim tinha de ajudar os outros e também o amor que ele sentia pela princesa", diz Rafael. No jogo de videogame, o desafio era justamente fazer com que Aladim, de cima de um tapete, salvasse a princesa. Nesse desafio, os três amigos passavam horas. O conto é, dos saídos da obra clássica da literatura árabe As Mil e Uma Noites, um dos mais populares entre as crianças brasileiras. Com ele, disputa espaço "Ali Babá e os Quarenta Ladrões".

De acordo com o professor de Língua e Literatura Árabe da Universidade de São Paulo (USP), Mamede Mustafá Jarouche, a presença da literatura árabe na infância brasileira se deu principalmente em função da difusão, no Brasil, da tradução francesa de As Mil e Uma Noites, feita por Antoine Galland. De fato, são poucos os adultos brasileiros que nunca ouviram, na infância, falar de Aladim ou Ali Babá. Segundo Jarouche, até hoje as duas historinhas permanecem populares junto ao público infantil nacional.

E de que maneira essas duas histórias entraram e entram na infância nacional? De acordo com o professor da USP, que é também tradutor do "Livro das mil e uma noites", elas incentivam o imaginário, o lúdico das crianças. "Tem a coisa do gênio, dos seres transformados em animais", lembra Jarouche. A história de Aladim, órfão de pai, gira em torno de uma lâmpada mágica que realiza os desejos de quem tem a sua posse. Aladim disputa a lâmpada com um homem mau, que se faz passar por seu tio. Com a lâmpada, Aladim consegue se casar com a princesa do reino, por quem é apaixonado.

Já Ali Babá é o relato da vida de um mercador que descobriu onde um grupo de ladrões guardava os tesouros roubados e os resgatou. Ali Babá contou o segredo ao irmão, que na tentativa de também ficar com eles, acabou preso pelos ladrões. Perseguido e encontrado em sua casa pelo chefe do bando, o irmão de Ali Babá foi ajudado pelo irmão. Os dois se livraram dos ladrões e Ali Babá decide se casar com a empregada da casa, que, por ter ajudado os dois a escaparem dos bandidos, fica com parte da fortuna.

De acordo com a psicóloga clínica Tatiana Peres, as histórias infantis influenciam também comportamento das crianças. "Algumas crianças se identificam com as personagens, como, por exemplo, as meninas, nas histórias de princesas, e os meninos com os heróis. Isso faz parte da constituição da sexualidade", diz Tatiana. De acordo com ela, a influência está presente em toda a infância, mas é quando têm entre quatro a cinco anos que as crianças se interessam mais pelas histórias e tentam encenar as suas personagens.

"A criança pede para ver ou escutar a mesma história várias vezes. Significa que ela está buscando uma elaboração dos conteúdos. Como ela não tem a mesma compreensão que nós, porém, fica registrado no psiquismo e isso foi marcando sua constituição como ser humano", afirma Tatiana, que é responsável pelo atendimento domiciliar no Hospitalitá Home Care e Hospital Nossa Senhora de Lourdes.

As crianças também usam as histórias que ouvem, segundo Tatiana, para resolver o complexo de Édipo. "Nesta fase do desenvolvimento é instaurada a lei, ou seja, descobrimos que não podemos ser absolutos e nos constituímos seres sexuais em busca do nosso objeto de amor. A instauração da lei é vivida na história de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, e em outras, onde o bem vence o mal. O que também acontece na de Aladim, e nesta ela ainda descobre o amor", diz.

Atualmente, várias editoras têm em seus catálogos, no Brasil, as historinhas das Mil e Uma Noites. Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, por exemplo, é tema de livrinhos da Record, Leitura, Martins Fontes, Rideel e Villa Rica, entre outras.
Divulgação
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