Na Tunísia, propostas para mais comércio e investimentos

domingo, 29 de junho de 2008

São Paulo – As relações comerciais entre o Brasil e a Tunísia são menores do que o intercâmbio com os outros países do Norte da África. Nesse sentido, os encontros que o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, teve ontem (26), em Túnis, com o chanceler tunisiano, Abdelwahab Abdallah, e o primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi, giraram em torno de propostas para ampliar as relações na seara econômica.
Divulgação Divulgação

Amorim (E) e Abdallah: conversas na linha do 'escambo do século 21'



A idéia é aproveitar as vantagens existentes em um país em determinadas áreas para suprir eventuais deficiências no outro, uma espécie de "escambo do século 21" que o governo brasileiro tem promovido em sua política externa. Segundo a embaixadora do Brasil em Túnis, Marília Sardenberg Zelner Gonçalves, que acompanhou as reuniões, foi citada, por exemplo, a possibilidade de investimentos brasileiros no ramo de processamento de fertilizantes na Tunísia.

O país árabe é rico em insumos para o setor, dos quais os produtores brasileiros dependem. Ao mesmo tempo, o Brasil é um grande celeiro agrícola e pode oferecer mais produtos e tecnologia da área aos tunisianos. "O ministro Amorim falou, por exemplo, da experiência brasileira com agricultura no semi-árido, do sucesso das frutas no Nordeste e da soja no Planalto Central", disse a embaixadora à ANBA.

A Tunísia é um país de clima seco e, segundo Marília, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) pode fornecer o amplo know-how que tem em lavouras nesse tipo de ambiente. Foi inclusive com o propósito de auxiliar os países africanos na área agrícola que a Embrapa abriu um escritório em Gana, na África.

Abdallah, de acordo com relato da embaixadora, disse, por outro lado, que empresas brasileiras pode participar de licitações tunisianas no ramo de construção. O país tem interesse também que o Brasil transfira tecnologia no ramo. Existem diversos projetos em andamento na Tunísia, especialmente com recursos dos Emirados Árabes Unidos. Algumas companhias brasileiras, como a Andrade Gutierrez, a Odebrecht e a Queiroz Galvão, já tocam obras no Norte da África, mais especificamente na Argélia e na Líbia.

Segundo informações do Itamaraty, os ministros conversaram também sobre cooperação na área de energia, com utilização da expertise da Petrobras na exploração e produção de petróleo em águas profundas; sobre intercâmbio nos setores de governo eletrônico e softwares, vacinas e medicamentos genéricos e a ampliação do número de visitas recíprocas de representantes dos governos e empresários.

Etanol

De acordo com Marília, Amorim falou bastante também sobre o etanol e chegou a entregar ao primeiro-ministro uma cópia em francês do discurso feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Conferência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), ocorrida no início do mês em Roma.

Na ocasião, Lula defendeu o etanol brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar, e culpou o aumento do preço do petróleo, a fabricação do combustível a partir do milho e os subsídios agrícolas dos países ricos pela crise internacional de alimentos. "O ministro explicou a posição brasileira sobre o tema, que às vezes é um pouco mal entendida. Essa questão é nova para eles", disse a embaixadora.

Amorim convidou o chanceler e o premiê tunisianos a visitar o Brasil, conhecer a cadeia de produção sucroalcooleira, a tecnologia dos carros bicombustível e participar da conferência sobre biocombustíveis que o governo pretende realizar em novembro, em São Paulo. Uma das idéias do encontro é debater um padrão mundial para o etanol com vistas a tornar o produto uma commodity.

Defesa

O chefe da diplomacia brasileira se encontrou também com o ministro da Defesa da Tunísia, Kamel Morjane. Segundo a embaixadora, Amorim falou da possibilidade da Embraer vender aviões à Tunísia e os dois discutiram formas de cooperação na área militar, como troca de informações, realização de conferências e eventual intercâmbio de militares para formação no setor.
TAP TAP

Com Morjane, o chanceler falou sobre venda de aviões

Paralelamente, diplomatas dos dois países se reuniram para discutir eventuais acordos que podem ser assinados. Marília informou que foram levantadas propostas nas áreas de cooperação entre institutos de pesquisa, pequenas e médias empresas, plantação de eucaliptos, esportes e turismo. A idéia é finalizar os textos até o final do ano para apresentá-los na próxima reunião da Comissão Mista Bilateral Brasil-Tunísia, que vai ocorrer em Túnis no início de 2009.
 

0 comentários: