Jovens pretendem fazer um documentário sobre identidade árabe

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

São Paulo – Os árabes são muito mais parecidos com os brasileiros, ou com cidadãos de qualquer outra parte do mundo, do que o senso comum indica. Mulheres árabes também são intelectuais, como as européias, homens árabes também são cristãos, como grande parte dos brasileiros. Com o propósito de desmistificar alguns estereótipos formados no Ocidente sobre o mundo árabe, dois universitários cariocas, estudantes de Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) resolveram colocar sua filmadora na mochila e sair em busca de argumentos para produzir um documentário. Laura Magalhães e Humberto Giancristofado devem concluir até o final do ano um filme que aborda a identidade árabe.

Os dois já tem dez horas de imagens gravadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. No filme, vão mostrar entrevistas e contar histórias de descendentes de árabes que recém chegaram no Brasil, de árabes em passagem pelo país e de moradores que há muito tempo vieram do Oriente Médio ou Norte da África para viver em meio aos brasileiros. A intenção é comprovar, segundo Humberto, que existem sim diferenças e particularidades na cultura e modo de viver árabe, mas que as similaridades são muito maiores do que se pensa. Laura e Humberto vão entrevistar árabes que desenvolvem no Brasil atividades iguais a qualquer outro ocidental, como, por exemplo, chefes de cozinha e artistas.

Um dos objetivos é desfazer a idéia de que todos os árabes são muçulmanos e mostrar que eles também são coptas, druzos, cristãos ortodoxos. O filme pretende esclarecer onde as questões étnica e religiosa se encontram e apresentar as diferenças entre uma e outra. "Não é complicado entender", diz Humberto. Os dois futuros filósofos não pretendem fazer um documentário didático, cheio de discurso, mas mostrar, através das imagens e histórias, a sua teoria. Colocar mulheres artistas e intelectuais árabes falando, por exemplo, segundo Humberto, é uma maneira de desfazer a idéia de que elas são sempre oprimidas.

A idéia do documentário partiu de um trabalho acadêmico, mas hoje o projeto, apesar de contar com o auxílio de professores da UFRJ, está desvinculado da universidade. Humberto pensou em fazer o filme a partir de uma disciplina do seu curso, Laboratório de História do Tempo Presente. No laboratório é desenvolvida uma linha de pesquisa sobre identidade nacional dos países da Ásia e da África. A princípio o documentário seria um trabalho de conclusão da disciplina. Humberto, porém, convidou sua colega Laura para participar do projeto e o levou mais além. Agora os dois estão fazendo o documentário por conta própria e farão desde as filmagens até a edição no computador e a distribuição.

Humberto é filho de uma descendente de italianos que nasceu no Egito, mas segundo ele, não foi a descendência o principal motivo que o levou a ter vontade de fazer o filme. "Foi a situação sócio-política. O objetivo do documentário é humanitário. Estamos buscando trazer esclarecimento", diz o estudante de 26 anos. Laura, de 20 anos, não tem origem árabe, mas fez um curso técnico de cinema. Os dois pretendem começar a editar o filme em novembro. Depois a intenção é divulgá-lo em universidades, institutos e festivais, entre outros espaços. Após concluido o documentário, eles querem levar outros projetos de cinema adiante. O filme deve se chamar Sete Véus.


Isaura Daniel
http://www.anba.com.br/orientese.php?id=90

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