'O Segredo do Grão' retrata a vida de imigrantes árabes na França. O drama, do diretor tunisiano Abdellatif Kechiche, está em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

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Slimane e sua enteada Rym

São Paulo – O "Segredo do Grão", longa-metragem do cineasta tunisiano Abdellatif Kechiche, retrata a vida íntima e familiar de um operário árabe do estaleiro do porto de Sete, na França. No filme, em cartaz em São Paulo e no Rio de janeiro desde a última sexta-feira (11), o protagonista Slimane Beiji tem 60 anos de idade e divorcia-se após anos de casamento. Sem emprego e sem salário, ele é obrigado a continuar próximo da família, sempre precisando de ajuda. Slimane bem que gostaria de se aposentar, mas não há a menor possibilidade. Depende dos ganhos de seu trabalho para levar a vida, ao lado da segunda mulher, Latifa (Katika Karaoui), e sua enteada, Rym (Hafsia Herzi).

Seu grande projeto é abrir um restaurante, o que parece ser um sonho muito distante. Mas, pouco a pouco, a família se une em torno desse projeto, que se torna para todos o símbolo da busca de uma vida melhor. A meta de todos passa a ser reformar um velho barco e transformá-lo num restaurante flutuante. Graças a seu senso de "como se virar" e a seus esforços, o sonho deles vai em breve se tornar realidade. Ou quase.

A produção, filmada na França em 2007 já coleciona 12 prêmios em festivais europeus. No Festival de Veneza 2007 levou o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Atriz Revelação, para Hafsia Herzi. No César 2008 foram quatro prêmios: Melhor Diretor (Abdel Kechiche), Melhor Filme Francês, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz Revelação, também para Hafsia Herzi. No Lumière 2008 faturou os prêmios de Melhor Diretor (Abdel Kechiche) e Melhor Atriz Revelação (Hafsia Herzi). Já no Étoiles d'Or 2008 faturou como Melhor Diretor (Abdel Kechiche), Melhor Atriz Revelação (Hafsia Herzi), Melhor Filme e Melhor Roteiro.

"Eu parti de uma fantasia popular, do tipo de história que se conta em projetos, o mito daqueles que 'fizeram' ou, em outras palavras, aqueles que escaparam à moderna escravidão representada por uma situação profissional precária, criando seu próprio negócio. E queria tratar o assunto com certa ironia, conduzindo a história por meio de uma narrativa típica dos contos. É uma história de aventura, onde a dimensão humana das personagens, mesmo quando em grupo ou numa ação forte, como acontece na segunda parte, constitui o tema central. Mesmo que eu me concentrasse em manter o foco na ação, cujas dimensões simbólicas e eufóricas são muito importantes para mim, paradoxalmente, era fundamental deixar livre o curso das digressões que poderiam surgir na narrativa, como o simples prazer de contemplar os eventos cotidianos de um drama familiar", diz o diretor, em nota.

"No final, é essa dimensão que mais interessa. Chegar perto das personagens, que eu tanto amo, e mostrar pequenas coisas do dia-a-dia. Por isso tive que adotar um ritmo narrativo singular. Geralmente, uma ação não permite que se permaneça muito tempo numa coisa só, mas uma refeição familiar de verdade ou o início de uma emoção demonstrada no rosto de qualquer pessoa precisa de tempo para acontecer", diz o tunisiano.

"O casamento entre a dimensão novelesca e o retrato fiel das personagens e seu ambiente é crucial para mim. Em parte porque eu pertenço ao meio descrito e estou envolvido emocionalmente. Mas, mais importante, eu queria mostrar todas as complexidades dessa família franco-arábica, em que todos estão profundamente envolvidos com a abertura do restaurante familiar, e, portanto, olhando para o futuro sem negar sua identidade. Para mim, foi importante fazer uma defesa franca e enérgica pelo direito de ser diferente, sem cair na armadilha estigmatizante e redutora da representação exótica. Uma linha tênue e essencial pela qual sou particularmente inclinado, devido ao meu olhar emocionalmente investido", complementa Abdellatif Kechiche, em nota divulgada pela distribuidora do filme no Brasil.
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A família se une em torno do projeto de Slimane


Ficha técnica

Título original: La Graine et le Mulet
2007, França, 151 minutos
Gênero: Comédia dramática
Direção: Abdel Kechiche
Roteiro: Abdel Kechiche
Produção: Claude Berri
Fotografia: Lubomir Bakchev
Edição: Ghalia Lacroix
Distribuição nacional: Imovision

Elenco
Habib Boufares, Hafsia Herzi, Faridah Benkhetache, Abdelhamid Aktouche, Bouraouia Marzouk.

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