Olhada com respeito e veneração pelos povos orientais, a rara flor de lótus está em plena floração nos poucos locais de cultivo existentes no Brasil e foi flagrada terça-feira em uma chácara no distrito de Sousas, em Campinas. Efêmera por ter duração de um a três dias e depender de condições especiais para brotar, a lótus é uma planta aquática nativa do Sudeste da Ásia, principalmente Japão, Filipinas e Índia. Suas folhas arredondadas e flores brancas, azuis ou rosadas esbanjam uma beleza que emerge das impurezas do lodo ou da lama.
As plantas vistas terça-feira na chácara de Sousas ocupavam um lago em toda a sua extensão, com flores já abertas em sua plenitude, outras apenas com seu miolo sem as pétalas e algumas dezenas em forma de botão. Com até 25 centímetros de diâmetro, a lótus tem características próprias, muito diferente da grande maioria das plantas.
O cultivo do distrito pertence à paisagista Catarina Lins Menucci, que é proprietária da Avis Rara Floricultura e coleciona milhares de espécies raras de flores, frutas e plantas. Catarina disse que trouxe sementes da Índia e em apenas um ano as plantas já tinham invadido todo o lago em sua área de cultivo de plantas.
As plantas levam uma semana para realizar sua floração, desde o botão até a abertura plena da flor. "Depois de abertas, eles ficam no máximo três dias, dependendo do vento e do clima", afirmou Catarina. Além disso, a lótus pode ficar aberta com suas pétalas apenas por um dia, dependendo do lugar de cultivo.
A paisagista disse que a planta é medicinal e muito utilizada na culinária e como chá. "É boa para combater as doenças respiratórias, a frigidez e a impotência, entre outros benefícios sentidos pelos orientais e por aqueles que se utilizam da planta como alimento ou chá", disse.
Da família das ninfeáceas (Nymphaea lotus), a flor de lótus é conhecida também por lótus-egípcio, lótus-sagrado ou lótus-da-Índia e é cultivada com fins medicinais e de ornamentação.
A fama da flor de lótus atrai estudiosos da botânica. Pesquisadores da universidade de Adelaide na Austrália, por exemplo, estudam uma característica incomum: assim como os seres humanos, ela é capaz de manter sua temperatura em torno de 35°C graus. Esse sistema de auto-regulação de calor, compreensível em organismos complexos, como ocorre com os mamíferos, continua inexplicável para a ciência.
Outros cientistas, do Instituto Botânico da Universidade de Bonn, na Alemanha, estudam outra curiosidade da lótus: suas folhas são autolimpantes, isto é, têm a propriedade de repelir microrganismos e poeira. Devido a isto consideram-na potencialmente útil para ser aplicada na limpeza doméstica e afins.
Catarina lembrou da propriedade da lótus como alimento, desde sua raiz e caule até folhas, flores e sementes. A espécie já era empregada há mais de 2,5 mil anos, na fabricação de pão e para uma espécie de bebida. Segundo estudiosos, servia como alimento ao povo da Líbia. Lendas gregas contam que seu suco teria a propriedade de gerar nos estrangeiros a vontade de permanecer na terra e não regressar. Na África setentrional existia um povo que se alimentava desta planta.
É identificada na cultura brasileira com a vitória-régia, planta também da família das Ninfáceas e nativa da região Amazônica. Algumas espécies florescem em áreas do Mato Grosso e nas Guianas.
A planta cobre as planícies alagadas do Oriente, do Egito à China, e é uma paixão asiática cultivada desde tempos remotos. É referência em todo o mundo para milhões de pessoas que a consideram o símbolo máximo da pureza espiritual.
Chegou ao Ocidente 400 anos antes de Cristo. Presenteados pelos egípcios, os gregos foram os primeiros a conhecê-la. A flor espalhou-se pelo restante da Europa, onde foi apreciada por sua beleza, particularmente pelos pintores.
A história conta que certos povos da América Central já a conheciam. Sacerdotes do México, por exemplo, embriagavam-se com o efeito alucinógeno produzido por um extrato da planta pouco antes dos primeiros espanhóis pisarem na América. No Brasil, a flor de lótus foi trazida pelos japoneses no século 20.
Planta é associada a Buda, aos chacras e à elevação espiritual
Simbologia remete ao nascimento no lodo e o desabrochar além da superfície da água
A flor de lótus é freqüentemente associada a Buda por representar a pureza emergindo imaculada de águas lodosas. No Japão, é tão admirada que, quando chega a Primavera, é costume ir aos lagos para ver o botão se transformando.
O monge Geden, do Centro Budista Avalokiteshvara, de Campinas, disse que a lótus é o símbolo da expansão espiritual, do sagrado, do puro. Segundo o monge, a lenda budista relata que quando Siddhartha, que mais tarde se tornaria o Buda, tocou o solo e deu seus primeiros sete passos, sete flores de lótus cresceram. "Assim, cada passo do Bodhisattva é um ato de expansão espiritual. Os Budas em meditação são representados sentados sobre flores de lótus, e a expansão da visão espiritual na meditação (dhyana) está simbolizada pelas flores de lótus completamente abertas, cujos centros e pétalas suportam imagens, atributos ou mantras de vários Budas e Boddhisattvas", explicou.
O monge Geden lembrou que, do mesmo modo, os centros da consciência no corpo humano, os chacras, estão representados como flores de lótus, cujas cores correspondem ao seu caráter individual e o número de pétalas às suas funções.
O significado original deste simbolismo pode ser visto na comparação entre a planta e o ser humano. "A flor do lótus cresce da escuridão do lodo, abrindo sua flores somente após ter-se erguido além da superfície, ficando imaculada de ambos, terra e água, que a nutriram", disse. "Do mesmo modo, a mente nascida no corpo humano, expande as verdadeiras qualidades após ter-se erguido dos fluidos turvos da paixão e da ignorância."
Curiosidades sobre a planta
Origem: Sudeste da Ásia.
Família: Ninfeáceas.
Porte: Sua haste pode alcançar mais de um metro acima do nível da água.
Período de floração: Primavera e início do Verão.
Flores: Produz flores brancas, cor-de-rosa ou brancas com as bordas rosadas.
Multiplicação: Por meio de sementes ou divisão de rizomas.
Luminosidade: Sol pleno.
Esoterismo: Os povos orientais têm esta flor como símbolo da espiritualidade, pois acreditam que ela desabrocha aqui na Terra somente depois de ter nascido no mundo espiritual. O lótus também representaria a pureza, pois emerge limpa e imaculada do meio de águas turvas e lodosas.
Cultivo: Pode ser cultivada em vasos imersos, tanques de jardim, lagos ou lagoas. Seu cultivo em vaso necessita de duas partes de terra argilosa, uma parte de esterco bovino bem curtido ou composto orgânico. Por ser uma planta aquática dispensa regas.
Gilson Rei
Cosmo On line
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