Parte II - Fundamentos do Budismo - Transformação do veneno em remédio (Hendoku Iyaku)

terça-feira, 1 de abril de 2008

O budismo ensina que os efeitos de nossas ações, boas ou más, são sentidos na nossa própria vida. Essa é a lei infalível de causa e efeito. Assim sendo, todos os nossos sofrimentos derivam das más causas que cometemos. Porém, o Gohonzon possui os poderes da Lei e do Buda e nós, os poderes da fé e da prática. Quando esses quatro poderes se unem, todo sofrimento pode ser transformado em alegria. Esse é o princípio de hendoku iyaku ou a transformação do veneno em remédio.

A expressão "transformar o veneno em remédio" apareceu pela primeira vez no Daitido Ron (Tratado sobre o Sutra da Perfeita Sabedoria) de Nagarjuna, um estudioso do Budismo Mahayana que viveu na Índia entre o segundo e o terceiro século. Nessa obra, Nagarjuna compara o Sutra de Lótus a "um grande médico que transforma o veneno em remédio" e ensina que as pessoas dos dois veículos (Erudição e Absorção) podem atingir o estado de Buda.

Os dois veículos, nesse caso, representam aqueles que se dedicam à busca da iluminação por meio da erradicação dos desejos conforme ensinado pelo Budismo Hinayana. Contudo, o Sutra de Lótus ensina que todas as pessoas, sem exceção, mesmo aquelas dos dois veículos, podem atingir o estado de Buda. Por essa razão, Nagarjuna comparou-o a um grande médico que transforma o veneno em remédio.

Nitiren Daishonin interpreta esse princípio num sentido mais amplo e universal. Ele nos ensina que podemos transformar os três caminhos — dos desejos mundanos, do carma e do sofrimento — nas três virtudes do Buda — as propriedades da Lei, da sabedoria e da liberdade.

No Ongui Kuden (Registro dos Ensinos Orais) consta: "Agora, Nitiren e seus seguidores recitam o Nam-myoho-rengue-kyo... queimam a madeira dos desejos mundanos e revelam a chama da sabedoria iluminada." Nitiren Daishonin afirma que por existirem os desejos mundanos, a iluminação pode ser atingida.

A nossa vida está repleta de desejos mundanos. Mesmo sem eliminá-los podemos purificá-la e atingir a iluminação. Desejos mundanos indicam ilusão, ao passo que a iluminação é o despertar para a verdade, ou seja, o reconhecimento do potencial do estado de Buda inerente em nós. Quando elevamos nossa condição de vida ao estado de Buda, lançamos luz sobre os desejos mundanos ou ilusões. Assim, o que era sofrimento dá lugar à alegria e os problemas se transformam em oportunidades para o nosso crescimento. Essa é uma forma de descrever o processo da revolução humana. Os relatos de experiência apresentados nas reuniões elucidam perfeitamente o princípio da transformação do veneno em remédio. As pessoas não poderiam relatar sobre os benefícios da prática sem antes terem enfrentado obstáculos. Tampouco poderiam falar com convicção de sua alegria sem terem vencido os sofrimentos.

Sobre o conceito de hendoku iyaku, o presidente da SGI, Daisaku Ikeda, disse: "A Lei Mística que Nitiren Daishonin revelou é o princípio que permite que os efeitos negativos sejam transformados em benefícios e o veneno em remédio. Portanto, não importam os atos que tenham cometido em existências prévias ou o carma que tenham criado no passado, jamais devem ser vencidos por eles. É vital que considerem tudo de uma forma positiva e construtiva deste momento em diante, e que vivam vigorosamente tendo como base a sua fé.

"Um verdadeiro praticante deste budismo deve ser capaz de sobrepujar os efeitos do mau carma e assegurar uma vida de vitória em meio à realidade da sociedade. Uma vida de corajosa recitação de Daimoku ao Gohonzon, a fonte de ilimitados benefícios, é centena de vezes mais valiosa do que aquela que sempre se encontra presa ao carma do passado. Somente praticando dessa maneira é que podem convencer as pessoas do poder do Gohonzon e abrir amplamente o caminho do Kossen-rufu."1

Uma pessoa que possui essa firme convicção pode desfrutar a verdadeira felicidade e liberdade.Y Nota: 1. Buddhism in Action (Budismo em ação). Tóquio, NSCI, 1988, vol. 3, pág. 71.

Fonte: Revista Terceira Civilização, Editora Brasil Seikyo Ed. Nº 407, pág 5, julho 2002.

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