Anúnciada a visita de Ahmadinejad ao Brasil, e já aparecem protestos, como o artigo de Silvana Mascagna (leia abaixo)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Está confirmada a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil no final de novembro. Estarei de férias e quem sabe não me junto aos protestos que, imagino - ou pelo menos, espero -, vão pipocar pelo país. Razões não faltam para todos os cidadãos de bem deste país se manifestarem contra a visita desse sujeito ao Brasil.

Começa pela sua controversa reeleição, a qual nosso presidente foi o primeiro a reconhecer como legítima, antes mesmo do Conselho da Revolução Islâmica. E como se não bastasse, Ahmadinejad ainda reprimiu com violência os manifestantes que, num ato de coragem, saíram às ruas daquele país para protestar contra a fraude do pleito, o que resultou inclusive na morte de uma jovem.

Mas isso não é tudo. Mahmoud Ahmadinejad é um ditador, que subjuga as mulheres, reprime os homossexuais, afirma que não há presos políticos no Irã, que o Holocausto não existiu e prega o fim do Estado de Israel.

Ahmadinejad seria cômico, se o que diz e faz não tivesse consequências trágicas para suas vítimas.

Numa visita à Universidade da Columbia, por exemplo, o presidente do Irã arrancou risadas da plateia quando disse: "Nós não temos homossexuais como em seu país (EUA). Nós não temos isso em nosso país. Não temos este fenômeno".

Na verdade, a declaração mostra o desejo de Ahmadinejad, que gostaria que não houvesse gays em seus país. Porque os que lá estão, para sobreviver, são obrigados a deixar o país ou mesmo viver escondidos, com medo de serem surrados, presos ou mesmo mortos. Que o diga o idealizador da ONG Iranian Queer Organization, Arsham Parsi, um exilado na Turquia que vive para denunciar as atrocidades praticadas pelo governo iraniano contra seus pares.

Quanto às mulheres, a coisa não é muito diferente. Lá a repressão à mulher é legalizada. De acordo com a Anistia Internacional, defensores e defensoras de direitos humanos das mulheres são frequentemente objeto de detenção e reclusão.

"A perseguição e a intimidação das autoridades contra os ativistas dos direitos da mulher se tornaram mais evidentes e agudas a partir do início da Campanha pela Igualdade, em 27 de agosto de 2006, que tem por objetivo reunir um milhão de assinaturas de iranianos numa petição pelo fim da discriminação legal da mulher", diz um texto da organização.

A Anistia Internacional quer acabar com essa situação. Trabalha para mudar a legislação discriminatória que, entre outras coisas, "exclui as mulheres dos postos mais importantes da administração do Estado bem como sua nomeação como juízas; é negada a igualdade de direitos em relação aos homens em matéria de matrimônio, divórcio, custódia dos filhos e herança, e ainda determina que seus testemunhos num tribunal tenham a metade do valor do testemunho de um homem".

A violência não se restringe apenas aos gays e às mulheres, mas a todo e qualquer ser que se manifeste contra o governo. Não à toa, organizações que lutam pelos direitos humanos no mundo vivem denunciando prisão, tortura e morte dos dissidentes do regime iraniano.

O pior, no entanto, é que o Irã de Ahmadinejad adquiriu informação suficiente para desenvolver e produzir uma bomba atômica, como publicou o "New York Times", em matéria no começo deste mês. A reportagem se baseia num estudo da ONU, que diz que os mísseis seriam capazes de atingir o Oriente Médio e parte da Europa a partir do Irã.

Ahmadinejad não é apenas uma afronta ao mundo livre e democrático, com seus atos e discursos fascistas. Ele é uma ameaça à paz, em todos os sentidos. E essa ameaça está prestes a desembarcar no país. Vamos ficar calados?

http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdEdicao=1449&IdColunaEdicao=9838

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