Serviço de mensagens do BlackBerry é bloqueado na Arábia Saudita

sexta-feira, 6 de agosto de 2010


RIAD - As restrições impostas pela Arábia Saudita a alguns serviços do smartphone BlackBerry passam a valer a partir desta sexta-feira, 6, segundo informações da agência AFP. Riad bloqueou o sistema de mensagens do aparelho alegando que as mensagens transmitidas entre seus usuários têm códigos ultrasseguros e dificultam a vigilância do governo.

Codificação das mensagens do ClackBerry dificultam vigilância do governo

Vários usuários do aparelho disseram não ter conseguido usar a função de mensagens em seus telefones desde o meio-dia local (6 horas em Brasília), embora tenham conseguido enviar recados antes desse período.

O órgão regulador das telecomunicações anunciou na terça-feira que ordenou a suspensão de tal serviço do BlackBerry a partir desta sexta, já que a companhia responsável pelo aparelho não cumpriu as exigências do governo. "O modo como são utilizados os serviços do BlackBerry não correspondem aos critérios de segurança da comissão nem às condições de licença", informou a Comissão de Comunicações e Tecnologia da Informação (CITC).

Os aparelhos, fabricados pela empresa canadense Research in Motion (RIM), apresentam um nível de codificação superior à maioria dos outros smartphones, tornando muito difícil a vigilância sobre seus usuários.

Além da Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos podem censurar alguns serviços do BlackBerry. Ambos os países regulam o acesso à internet. O governo indiano também lamentou a falta de controle sobre a comunicação entre os usuários do aparelho e disse que poderia tomar medidas semelhantes.

Venda

Alguns sauditas estão tentando vender seus BlackBerries, já que o serviço de mensagens está bloqueado. A iniciativa causou a queda do preço dos aparelhos. Alguns os vendiam pela metade do preço que é comumente comercializado. Comerciantes dizem que "ninguém mais compra, só querem vender os BlackBerries".
 

Além de Sakineh, 24 presos iranianos podem ser mortos a pedradas

 

A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani não é a única no país que está prestes a ser apedrejada. Outros 24 presos do país se encontram no mesmo corredor da morte, segundo um estudo publicado pelo Comitê Internacional Contra Apedrejamento - ONG que monitora este tipo de execução no Irã. O caso da mulher de 43 anos, condenada inicialmente por adultério e depois por assassinato, ganhou repercussão mundial, tendo inclusive interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e evidencia a gravidade do problema na República Islâmica.

O Irã é, atualmente, o país com o maior número de execuções per capita no mundo - à frente até da China, apontam dados do Comitê e da Organização das Nações Unidas (ONU). "Esse é um regime que apedreja e executa, que prende pessoas todos os dias e corta suas mãos e seus pés", enfatizou Mina Ahadi, porta voz da ONG, em carta aberta ao presidente brasileiro divulgada na última terça-feira. No documento, Mina agradecia a oferta de asilo feita por ele a Sakine Ashtiani, mas pedia que Lula deixe de apoiar o governo de Mahmoud Ahmadinejad.

Somente este ano, de acordo com a Anistia Internacional, o regime iraniano já executou 115 pessoas. Entre elas, estão manifestantes torturados após os protestos contra a reeleição de Ahmadinejad, em junho de 2009, em um pleito marcado por denúncias de fraudes.

Sakineh - A iraniana que chamou a atenção de todo o mundo é mãe de dois filhos e havia sido condenada à morte por adultério, por manter relações consideradas ilícitas com dois homens após ficar viúva. Em 2006, ela levou 99 chibatadas por esse "crime". Neste mesmo ano, um dos amantes foi condenado pelo homicídio do marido dela. O caso foi, então, reaberto e ela foi sentenciada à morte por apedrejamento. Para evitar críticas internacionais, na última terça-feira, o Irã mudou a condenação de Sakineh de adultério para assassinato. Logo depois, decidiu que ela vai responder, na verdade, pelas duas acusações.
 

Nobel da Paz iraniana critica Lula e diz que "nenhuma nação deve estar ao lado do Irã"

Nobel da Paz iraniana critica Lula e diz que "nenhuma nação deve estar ao lado do Irã"

Cecília Araújo
Shirin Ebadi: "Por que Lula não visitou líderes de sindicatos nas prisões?"

Shirin Ebadi: "Por que Lula não visitou líderes de sindicatos nas prisões?" (Paulo Vitale)

Há exato um ano, depois de décadas em defesa dos direitos humanos e uma série de ameaças contra sua família, a advogada Shirin Ebadi decidiu deixar o Irã. Era a véspera das eleições de 12 de junho, que, sob suspeita de fraude, deram um segundo mandato ao presidente Mahmoud Ahmadinejad e detonaram uma onda de protestos diários nas ruas de Teerã, duramente reprimidos. Hoje com 62 anos, a ganhadora do Nobel da Paz de 2003 passa grande parte de seu tempo em viagem pelo mundo - fazendo denúncias, ajudando a fundar organizações humanitárias e representando as vítimas da repressão no país dos aiatolás.

Primeira mulher a se tornar juíza no Irã, expulsa dos tribunais com a instauração da Revolução Islâmica, em 1979, Shirin conversou por telefone com a reportagem de VEJA.com, por intermédio de sua intérprete. Embora não dê grande importância a Ahmadinejad ("o que importa é o comportamento dos aiatolás"), Shirin critica sua recente aproximação com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Discorda das sanções econômicas impostas ao Irã - prefere as punições políticas - mas é clara ao recomendar uma única postura diplomática em relação ao seu país: "Enquanto o Irã mantiver essa atitude provocadora, nenhuma nação deve estar ao seu lado".

Em 31 anos de República Islâmica, a senhora reconhece algum progresso na forma com que o governo lida com os cidadãos iranianos?
Lamento muito que depois desses anos todos passados da Revolução eu ainda não possa me considerar uma iraniana livre. Em 1979, foram impostas ao país muitas leis que vão contra o direito das mulheres. Talvez o governo tenha devolvido um ou dois desses direitos. Ainda faltam muitos outros.

A senhora ainda recebe ameaças devido ao seu posicionamento crítico ao governo dos aiatolás?
Infelizmente, estou sempre recebendo ameaças. Agentes do governo frequentemente mandam mensagens à minha família dizendo que, se eu continuar com o meu trabalho, o governo iraniano vai me encontrar onde quer que eu esteja.

No dia 12 de junho, completa-se um ano da polêmica votação que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad à presidência do Irã. Como a senhora avalia seu governo?
Na verdade, não importa se é Ahmadinejad ou outra pessoa que está no poder, mas sim a forma como as autoridades máximas do Irã atuam. O que realmente faz a diferença é o comportamento dos aiatolás. Embora Ahmadinejad seja o presidente, há um outro líder supremo (o aiatolá Ali Khamenei) que de fato comanda a vida dos iranianos.

O que a senhora pensa do acordo entre Brasil, Irã e Turquia para a troca de urânio enriquecido?
Espero que o governo brasileiro seja capaz de convencer o Irã a de fato negociar e respeitar as resoluções determinadas pela comunidade internacional. Ao mesmo tempo, lamento profundamente que o presidente Lula tenha ido até o Irã e se recusado a conversar com qualquer membro da sociedade iraniana.

O que a senhora esperava do presidente Lula durante sua visita ao país?
Quando Lula foi ao Irã, por que não visitou líderes de sindicatos de trabalhadores nas prisões? Fiquei surpresa, porque sei que ele representa os trabalhadores em seu país. Atualmente, a condição das prisões é muito precária - e tem piorado. E esses líderes sindicalistas estão presos por participarem de protestos em prol de seus direitos! Tenho muito respeito pelo presidente Lula, mas me surpreendeu muito que ele tenha se encontrado com o presidente do Irã e outras autoridades e ignorado completamente a classe trabalhadora.

A senhora é a favor das sanções impostas ao Irã pelos Conselho de Segurança da ONU?
Sou contra a imposição de sanções econômicas ao Irã porque elas não vão atingir o regime e sim fazer com que a população iraniana fique ainda mais pobre. Por outro lado, acredito que seja uma obrigação do Irã respeitar as resoluções internacionais e suspender o enriquecimento de urânio. Eu acharia mais justo que, no lugar das sanções econômicas, as potências impusessem sanções políticas ao país. Enquanto o Irã mantiver essa atitude provocadora, nenhuma nação deve estar ao seu lado.

A senhora, pessoalmente, acredita que o Irã desenvolva armas nucleares?
Tudo no Irã é feito a portas fechadas. Eu - ou qualquer outro cidadão iraniano - não tenho ideia das decisões que são tomadas entre as autoridades.

Como deveriam agir as autoridades iranianas?
Se o governo de fato escutasse os cidadãos, poderia se tornar mais forte. Porém, da forma como esses líderes têm agido, mais cedo ou mais serão tirados do poder pelo povo. Não digo que isso vai acontecer nos próximos três anos de mandato de Ahmadinejad. Falo do início de um processo cuja duração não se pode prever.