São Paulo – Aos 16 anos de idade, o argelino Si Smail Yahia, que hoje está com 21 anos, teve um problema na retina e perdeu a visão. O que parecia ser o fim foi apenas o começo. Em 2004, Yahia passou a praticar o atletismo e no ano seguinte já foi vice-campeão na corrida de revezamento 4x100 metros do Campeonato Mundial Júnior de Cegos de Colorado Springs, nos Estados Unidos. Yahia está no Brasil competindo nos Jogos Mundiais de Cegos, junto com outros colegas que também souberam dar a volta por cima e hoje são grandes competidores.
"Comecei a praticar o atletismo recentemente. Ainda tenho uma longa carreira pela frente", afirmou Yahia à ANBA. Ele luta por uma medalha no Brasil. "Meu objetivo nesse campeonato é conseguir o ouro e acredito que vou ganhar, porque estou muito confiante", acrescentou. De acordo com o guia de Yahia, Taieb Safiane, que o acompanha nas provas, a especialidade do atleta é nas corridas de 800 metros e 1,5 mil metros.
Os campeonatos para deficientes visuais são divididos em três categorias: B1, para aqueles que são totalmente cegos, como no caso de Yahia; B2, para aqueles que têm 5% da visão e enxergam somente vultos; e B3, para quem têm até 10% da visão e conseguem definir pessoas.
De acordo com Yahia, sua vida é normal. "Pego transporte sozinho, saio com os amigos e com a minha namorada", disse. No próximo ano ele vai aos Estados Unidos passar as férias. "Vou sozinho. Vou ficar um mês." Segundo ele, durante todo tempo que precisou de ajuda para se adaptar a sua nova realidade, seus pais e amigos sempre estiveram ao seu lado.
Outro atleta argelino da categoria B1 que fala com orgulho das suas conquistas é Omar Bon Chiheb, de 41 anos. "Comecei a treinar aos 20 anos, ou seja, já tenho mais de 20 anos de prática", disse. Durante esses anos, Chiheb, que está participando das provas de 5 mil metros e 1,5 mil metros em São Paulo, conquistou duas medalhas de prata e 5 de bronze nos Campeonatos Mundiais de Cegos na Espanha, Canadá e Holanda e nas Paraolimpíadas de Atenas, em 2004. "Agora estou torcendo para conseguir um ouro no Brasil", disse.
No Brasil os argelinos estão se destacando. O atleta Khoumeime Bin Bouzid, de 26 anos, da B2, ganhou medalha de bronze na prova dos 5 mil metros. "Esta foi a primeira vez que eu participei de uma competição internacional", disse ele, que treina desde os 15 anos e agora vai se preparar para as Paraolimpíadas de Pequim em 2008.
Outra atleta argelina B2, que vem superando seus limites desde os oito anos de idade, é Mounia Kerkar, de 29 anos. Lutadora de judô, Mounia só enxerga de perto e com lentes corretivas. Na infância, ela lutava sem problemas, mas depois passou a ter dificuldades para enxergar. "Não conseguia ver o quadro da pontuação, aí passei a usar lentes", disse. Mounia é uma das sete judocas argelinas que estão participando dos jogos em São Paulo. Na Argélia, ela é professora do esporte para crianças com e sem deficiência visual.
Outro deficiente visual B2 que dá aulas é o tunisiano Ahmed Belhaj Ali, de 31 anos. Ele começou a praticar o atletismo com 20 anos e foi campeão mundial nos jogos da Espanha, França e Canadá. Nas Paraolimpíadas de Sidney, ele ficou em quarto lugar. Todas as provas foram na corrida de 100 metros. "Eu trabalho como treinador esportivo de uma escola para deficientes visuais na Tunísia e eu amo o que eu faço", afirmou Belhaj, que nasceu com a deficiência.
Os Jogos Mundiais de Cegos em São Paulo começaram dia 31 de julho e seguem até segunda-feira (06). Além da Argélia e Tunísia, outros 60 países estão participando, entre eles, o Iraque, que está competindo na modalidade Goalball, jogo desenvolvido especialmente para os deficientes visuais.
Marina Sarruf
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Árabes no Mundial de Cegos em São Paulo
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
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