Violeta Jafet completa 100 anos nesta quinta-feira

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

São Paulo - O hospital é grandioso. Dona Violeta também é. O hospital tem 87 anos de história. Dona Violeta tem cem. O hospital é um exemplo para a cidade de São Paulo, para o país, para a comunidade sírio-libanesa do Brasil. Dona Violeta também é. Pudera, a história de um é a história do outro. E vice-versa. Ele, o hospital, é o Sírio-Libanês, um dos mais tradicionais e importantes do país. Ela é Violeta Jafet, filha da fundadora da Sociedade Beneficente de Senhoras, Adma Jafet, que em 1921 fez a primeira reunião das senhoras da comunidade sírio-libanesa propondo nada menos que a criação de um hospital.

Violeta estava nessa reunião. Tinha apenas treze anos. Hoje, 10 de fevereiro, ela completa cem. A festa será no próprio hospital, na quinta-feira (14). Nada demais, a pedido da própria Violeta. Uma homenagem feita de amigos, de senhoras da Sociedade, de médicos, colaboradores e admiradores. Gente que sabe que sem Violeta nada daquilo ali seria possível.

Entenda por "aquilo ali" um complexo gigantesco de cem mil metros de área construída no bairro da Bela Vista, onde 1,8 mil médicos e 3 mil funcionários – fora os 250 voluntários – circulam diariamente para atender os pacientes que passam por ali. Por ano, são mais de 14 mil internações nos 300 leitos. O Sírio-Libanês é referência em áreas como a de oncologia e cardiologia.

Se a mãe foi a idealizadora do hospital, Violeta foi a realizadora. Quando o hospital estava para ser inaugurado, em 1941, o governo do Estado de São Paulo desapropriou o prédio para transformá-lo em uma escola de cadetes. Com muita paciência e persistência, Violeta conseguiu tomar o prédio de volta quase vinte anos depois e, finalmente, fazer o hospital funcionar já no começo dos anos 60. A inauguração oficial foi em 1965. Adma já não estava ali para ver, morreu em 1956.

"Foi um longo caminho para chegar até aqui. Mas tenho uma legião de senhoras maravilhosas que fazem um lindo trabalho", disse Violeta em entrevista à ANBA na última sexta-feira (08). "São elas quem mantém a chama acesa. Nossa, estou ficando poética não?", diz, bem-humorada.

Elegante, tailleur azul, batom vermelho, jóias, cabelos e unhas impecáveis, dona Violeta já não anda com facilidade, nem escuta tão bem. Mas continua indo todas as semanas ao hospital, às vezes mais de uma vez, e quer saber tudo o que acontece de novo por ali. "Ela é a alma disso tudo aqui. Foi ela quem nos ensinou tudo", conta Ivete Rizkallah, atual presidente da Sociedade Beneficente das Senhoras, que acompanha a entrevista. "Se uma nova área é inaugurada, ela vai até lá conhecer, conversa com o médico responsável. Mesmo como presidente honorária, ela segue interada de tudo", complementa Ivete, que também é nora de Violeta. A Sociedade, hoje, conta com 19 senhoras. Muitas delas são descendentes das fundadoras.

Violeta confessa que não imaginava que um dia o sonho da mãe se tornaria algo tão grandioso, tão "considerado". Mas faz questão de dar todos os créditos à Adma. Violeta gosta de dizer que sua mãe era uma mulher cem anos à frente de seu tempo. A libanesa Adma veio com 15 anos para o Brasil, seu marido Basílio era um dos irmãos Jafet que fundaram a Fiação, Tecelagem e Estamparia Ypiranga.

Os Jafet ajudaram a desenvolver a cidade de São Paulo, em especial o bairro do Ipiranga – o pai de Violeta construiu uma mansão que ficou conhecida como Palácio dos Cedros, por causa da árvore símbolo do Líbano que foi plantada no jardim. No mesmo terreno, Basílio construiu um palacete de presente de casamento para sua filha Violeta.

Apesar de toda a prosperidade que o novo país trouxe aos Jafet – ou talvez mesmo por causa dela – foi a filantropia que guiou o trabalho de Adma e Violeta. "O Hospital nasceu com a missão de ser para todos", ressalta dona Violeta. "A filantropia sempre nos guiou." "A idéia era criar um hospital que representasse a colônia sírio-libanesa, mas que ao mesmo tempo fosse a retribuição dessa comunidade à sociedade brasileira, que acolheu tão bem os imigrantes", complementa Ivete.

Ao longo de toda a sua história, o Sírio foi ganhando novos prédios, unidades, centros de tratamento, sempre com a generosa ajuda da comunidade. Pelas paredes do hospital, das mais velhas às mais novas, é possível ver diversas placas de agradecimento e homenagem a famílias de origem sírio-libanesa que contribuíram com a obra.

Hoje, o Sírio-Libanês é considerado um hospital top. Segundo a assessoria de imprensa, o hospital se mantém com os próprios pacientes, sendo 70% via convênio e 30% particular. Mas Ivete faz questão de lembrar que quanto mais ele cresce, e mais pacientes com alto poder aquisitivo eles atraem, mais cresce o trabalho filantrópico.

Hoje, cerca de cinco mil crianças carentes da Bela Vista, dos entornos do hospital, são atendidas ali. E mais de dois mil exames de alta complexidade são feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esses são apenas dois exemplos. Há muitas outras iniciativas. "Não há lucro. É tirar de quem tem para dar para quem não tem. O espírito continua o mesmo", resume Ivete. No ano passado, foram R$ 60 milhões só em filantropia.

A atual presidente da Sociedade Beneficente de Senhoras faz questão de frisar a importância do doutor Daher Cutait, que foi o diretor clínico do hospital por mais de 40 anos, fazendo uma parceria acertada e afinada com Violeta.

Em 2001, Violeta inaugurou o Memorial no saguão do prédio antigo, construído ao longo dos anos 30. Ali, ela reparte um pouco da sua história – e do hospital – com médicos, residentes, pacientes e visitantes. Está ali, por exemplo, a ata de fundação da Sociedade Beneficente das Senhoras – toda escrita em árabe. E inúmeras homenagens que Violeta recebeu, inclusive de autoridades sírias e libanesas. Para o Líbano, ela foi muitas vezes. E costumava viajar bastante. Conheceu o mundo – conta a nora Ivete.

Dona Violeta era casada com um primo, Chedid Jafet, teve quatro filhos, onze netos e 15 bisnetos. Se a mãe era uma mulher cem anos à frente de seu tempo, dona Violeta é uma mulher que há cem anos faz história. Violeta costuma dizer em entrevistas que o segredo da longevidade é perdoar, esquecer e amar. Entre amores, perdões e esquecimentos, Violeta pode apagar suas muitas velinhas com a certeza de que sua missão, e a de sua mãe Adma, foi mais que cumprida.


http://www.anba.com.br/especial.php?id=425


Nota da Big Eyes:
Perdoar, esquecer e amar... gostei do conselho!

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